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Tem juízo, Joana!

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

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29
Mar20

Uma peça sem palco


Peça sem palco.jpeg

O egocentrismo sempre me definiu.

Uma característica forte que encobria os demais à minha volta, insatisfeitos, por não os deixar partilhar o mesmo palco que eu. Levou-me a criar uma lista de inimigos ou, prefiro caracterizá-los assim, adversários. Ao meu redor, sempre tive pessoas que me amavam ou que me odiavam, nunca houve meio termo. O problema deste egocentrismo que, ainda hoje, me caracteriza, não fosse eu autora deste blog, surgiu quando a minha reputação se transfigura junto dos meus mais queridos.

Sempre estabeleci que os meus adversários eram triggers de competição, quer pessoal, profissional, escolares e até de relacionamentos. Isto, claro, nem sempre foi bem apadrinhado e tendia para aumentar essa comunidade. Mas para mim, era indiferente. Era adepta daquele lema vulgar “sou como sou, quem gosta, gosta; quem não gosta, paciência”. Uma desculpa, uma desculpa para não ter de remexer na minha consciência, para não me pesar.

Gosto de pensar que a minha vida sempre girou à volta de um palco. Sempre me encorajaram a ser “a” e não “uma” e, claro, que o meu egocentrismo teve a sua cota parte de culpa no meio disto tudo. A minha vida num palco, onde tudo o que eu fizesse seria visto por todos, onde tudo o que eu dissesse seria ouvido por todos. Não era por falta de ser ouvida. Era pela busca obstinada de distinção junto dos meus adversários, era pela constante necessidade de aprovação. E, ainda mais doloroso de admitir, pelo medo da rejeição por parte dos expectadores. E, lá se f*** o vulgar lema.

Quando este egocentrismo se transfigurou em achincalhar o ego dos outros, para brilhar em palco, começou-se a abrir uma fenda na plateia. Fenda que dividia os expectadores que já não corroboravam comigo, dos que tomavam o meu partido, juntando-se a mim a avacalhar morais até derrubar as dignidades alheias.

“O riso dos maus é passageiro,

E a alegria dos ímpios

Dura apenas um instante.”

Jó 20:5

Durou pouco. Sentimentos negativos de raiva, ódio, vingança, indiferença e hostilidade começaram a afectar os expectadores que realmente me interessavam, aí a coisa mudou de fugira. Ao invés de aplausos, atiravam-me ovos. Doeu.

Acho que foi neste preciso momento que comecei a criar consciência de mim mesma. Sai dos palcos directamente para os bastidores. Para me resguardar, reflectir, repensar nas minhas acções e no que era realmente importante: ter o palco ou os expectadores. Apercebi-me que nunca poderia haver palco sem expectadores interessados na peça. A peça era eu.

Os expectadores eram mais importantes, claro. O meu egocentrismo teve de se direcionar, mais uma vez, para mim. Mas desta vez, não tinha o sentido pejorativo. Não era fazer-me valer do fracasso e ridicularização os outros para sobressair ou ser incapaz de me colocar no lugar do outro. Era sim, centrar-me em fazer o bem por mim e aos outros, sentir-me grata por me ter a mim com todas as qualidades enquanto respeitava todos os meus defeitos. Foi, na altura, um processo difícil. Ainda é. A imaturidade, falta de consciência, o instinto, eram vozes muito activas dentro de mim. Quase incontroláveis. Por isso, julgo que consegui direcioná-lo unicamente por uma razão: eu queria expectadores, quer houvesse palco ou não.

Tive a sorte de me rodear dOs expectadores que me empurraram para esta encruzilhada do egocentrismo. Entre o bem e o mal. E graças a eles, escolhi o que achei mais apropriado para mim.

Agora, um egocentrismo empático, altruísta.

Um “eu no centro” emendado, ainda com muitas malhas por cobrir, certamente.

O egocentrismo sempre me definiu.

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