Testei positivo à COVID
A sensação de ver o líquido arroxeado do teste rápido a subir e a deixar um rasto no "T" é perturbadora. Como se, apenas um traço, fosse capaz (e é!) de alterar a tua vida, num derradeiro ápice.
A sensação é equiparada a rasgarem-te as agendas, a puxarem-te o tapete até dares um enorme trambulhão no chão do quarto, o qual estará imediata e maioritariamente de porta fechada, selada e desinfectada.
De um minuto para o outro, com apenas um traço num teste de plástico com ar pouco fiável, és o maior inimigo da humanidade.
Depois de me adaptar e atrasar a agenda uma semana para a frente, veem as "perguntinhas":
- Então, mas como é que apanhaste?
De seguida a arrematar, as suposições:
- Mas tens tido cuidado?
- Se calhar tiraste a máscara quando e onde não devias...
E claro, por fim, em tom de pena, as sugestões:
- Toma um cházinho de gengibre e limão, dizem que são anti-inflamatórios.
- Se estás com tosse, o melhor é fazeres chá de cebola...
- Tosse? Faz chá com cravinho!
- Tosse? Existe um medicamento muito bom na fármacia, mas também há aquele remédio caseiro de cenoura.
- Ouve-me lá, Joana, estás a tomar multivitaminicos? Vitamina C? É importante que tomes.
E de repente, tens toda uma plateia de gente a olhar para ti, por um tubinho de ensaio, e a ligar-te todos os dias para saber que "novos" sintomas surgiram, para que isso lhe dê a oportunidade de criarem novas teorias mirabolantes para contar.
E podia continuar aqui... a dar-vos exemplos das minhas chamadas telefónicas actuais, mas... Não só quero aproveitar este tempo para criar, escrever e cuidar de mim, como também quero aproveitar este espaço para agradecer a sorte que tenho. A sorte de não estar a passar assim tão mal, talvez graças à vacina, talvez graças ao meu sistema imunitário ou até mesmo à mera sorte no meio do azar. E, claro, a sorte que tenho de estar rodeada de pessoas que gostam realmente de mim, que se preocupam e que me querem cuidar.