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Tem juízo, Joana!

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

09
Dez22

A roda da vida


A roda da vida que rola, rolando uma conjeturada esfera sem vértices. Curva, como o tempo que não para. Redonda, como o abundante que a vida é.

A roda que vive na vida, como tudo o que rola ou que se enrola, pelos cenários impostos ou os campos onde é suposto rolar, uma simbiose equidistante entre vários pontos por ela formados.

Um círculo separado em partes, pelas partes que constroem o círculo, escalando a atenção e prioridades, assinalam-se os pontos e sublinham-se as dúvidas.

Foi traçado o panorama integral.

Neste momento da vida, a roda deixou de ser roda, mas rola na perpetuidade de si própria. Um rabisco de vértices com embaraço para rolar. Em partes perdeu o diâmetro, noutras ganhou distância, contudo a consistência permanece, como a gravidade que nos aprisiona ao solo.

Matuto nesta roda tosca que deixou de rolar assim que lhe escangalhei os pontos. É difícil ser-se equilibrado, sem desigualar as distâncias.

Aqui, ao invés de se atraírem, os opostos resolvem-se. Numa relação de interajuda, frente a frente, são o meio para atingir um fim. A boia de salvação um do outro.

Trabalhoso girar rodas em campos que quero estacionar… Então, desenrolo-me com este hieróglifo, porque sei o que devo privilegiar, sendo esfera ou disforme, estes são os meus atuais contornos. E mesmo se parecer absurdo fazer rolar esta vida desmedida, tenciono continuar a empurrar, pois rolando ou deslizando, com certeza deixarei sempre rasto.

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👉🏻 publicação no #blog da @valletibooks REFLEXÕES Nº 49 04/12/2022.

24
Nov22

Submundo


— Eterniza-me na pele!

Acocorada, com as mãos transpiradas, apertava os joelhos contra o peito.

Doía-lhe a alma.

Aquele som frenético da agulha carregada de tinta preta, propagava a tranquilidade de que carecia.

Nómada, naquele mundo subterrâneo, a sua pele era arte que se misturava com as cores sujas do betão.

Era uma cliente habitual, por cada vez que incorria na imoralidade castigava a pele. A dor era a sua salvação.

Roubou, enganou, matou e… vendeu-se, apenas porque tinha de se fazer durar.

Não tinha nada, não mais que sua história tatuada no corpo.

— Por favor, eterniza-me na pele!

 

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⚜️ Conto para o concurso da European Association of Creative Writing Programmes - flash-fiction EACWP contest (Portuguese) - texto com um máximo de 100 palavras com o tema “underground”⚜️

12
Nov22

TU


Tens um sol dourado no colo do teu abraço,

que me afaga os cabelos na noite escura,

Sentes a terra húmida no pé descalço,

Lágrimas que chorei devagar, contudo em fartura.

 

O passado habita nos teus olhos esverdeados,

Faz melancolizar-lhes a expressão,

acontecimentos que surgiram encadeados,

Que te distanciaram da missão.

 

Neles reside também a franqueza,

Que me fez acreditar de punhos cerrados,

Que a humildade é uma riqueza,

E só existe nos bolsos dos mais honrados.

 

O teu amor banha-se do que é primitivo

Vive do instinto e fases da lua,

Do premeditado é fugitivo

Nada melhor que o deixar que flua

 

Enrolamo-nos na areia quente

Deste amor que renasceu

O universo ligou-nos, por consequente

Eu sou tão tua, como tu és meu.

 

Uma homenagem a que é Amor para mim.

 

👉🏻 também publicado no blog da @valletibooks REFLEXÕES Nº45 6/11/2022

04
Nov22

Homenagem casamento Tiago & Orlando


Conheci o Tiago com um brilho nos olhos. Sim, aqueles lindos olhos azuis com pintas amarelas que só ele é capaz de ver. O brilho vi-o eu. Um brilho cheio de determinação e bravura, consciente daquilo que queria ser, daquilo que queria ter e daquilo que queria sentir.

Um rapaz de mãos gastas pelo trabalhador que é, de cabeça erguida pelos objetivos que pretende atingir, mas o coração destaca-se pela nobreza e honestidade.

Conheceu o Orlando por mero acasoBom, eu não sei se o destino existe ou não, mas o acaso traz estas surpresas, as quais não conseguimos arranjar razão que as justifique. Este amor, que celebramos aqui hoje, nasceu desses acasos, uma mera casualidade. Quão bonito consegue ser o inesperado? Que consegue mudar-nos a vida assim?

E, se a eternidade é uma ilusão, confiemos na aleatoriedade do universo, que nos trouxe até aqui hoje para aprender aquela religião universal: o amor. Sabendo que a glória, depende de cada um de nós, porque o amor nunca deixará de ser uma escolha, uma escolha diária.

Se o tempo falasse contaria a história destes dois corações que se decidiram enamorar há 5 anos atrás, num seio de coragem e determinação. Falar-nos-ia do Orlando como o suporte, que deu guarida à estabilidade emocional do Tiago. Acrescentaria a dedicação que têm um no outro, e, como em tudo na vida, a tolerância capaz de abraçar tanto as virtudes como as imperfeições. Entre gargalhadas, revelaria os momentos de humor partilhados! Contaria as inúmeras idas e voltas de comboio do norte ao centro e do centro ao norte, que desnorteava os apaixonados quando a saudade decidia gritar.

Se o tempo falasse falaria das dúvidas, dos medos, das questões que foram surgindo ao longo do caminho. Descrever-nos-ia as lágrimas da distância, de uma cega perseverança de quem sofre, mas que não quer desistir! Os punhos cerrados que se erguiam às dificuldades, mas o peito ia cheio para vangloriar o amor que decidiram partilhar.

Hoje celebraremos a liberdade, a de poder amar sem restrições, hoje celebraremos o verbo dar e o acreditar. Dar haveres infinitos, os que não são feitos de bens, mas de bem-quereres. E, acreditar, acreditar que tudo tem uma força maior, superior a nós, que nos faz caminhar na vida confiantes e crentes no amor eterno. Porque mais do que pensar na eternidade é acreditar nela. E o amor só será eterno quando “acreditar” for assíduo na rotina diária.

Então, hoje, acreditem e deem todo o amor de que são feitos. Deixemos os comboios de lado, os que fizeram parte da vossa história, porque daqui para a frente será um voo, aplanado nas nuvens da cumplicidade, lealdade e respeito e, quem o pilota são os dois, crentes de que juntos, saberão sempre por onde ir.

No vosso voo deem lugar à liberdade, à individualidade, à escolha, para que sejam sempre livres de serem vocês próprios, com as vossas próprias escolhas. Porque o amor toma uma beleza colossal quando escolhemos livremente em quem entrelaçamos as mãos.

E se o tempo continuasse a falar, que nos venha contar esta belíssima história de amor ouvida e sentida com o coração. E que todas as idas e voltas, todas as viagens, sejam um percurso perfumado, a pé, num voo ou, como dita a história, de comboio mas onde os dois, caminham sempre de mãos dadas, cientes de que este amor é luz, a luz que vos irá guiar para sempre.

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👉🏻 homenagem ao amor, num casamento onde a distância se reduziu pelo afecto e vontade de ficar junto.

 

24
Set22

A ilha


A areia é fina, suave e quente. Devolve-me o conforto de outrora sentido quando me deitava no sofá ao som da televisão. Hoje, esta vasta extensão creme é o meu único assento e o som de fundo as ondas do mar.

Podiam ser tempos de plenitude, pausa e… glória. Mas o tempo é infindo, as certezas desconhecidas e a mente inconformada. Já vai longo o tempo que aqui estou, tanto, que o azul turquesa naturalmente se converteu no meu teto durante os dias e o manto de estrelas, nas noites.

Difícil é ser-se, muito mais o é sendo sozinho. A mente, por vezes aliada, outras vezes adversária, torna-se um músculo forte à minha sobrevivência. Se não o treinar, nada é, nem nada sou.

O meu físico está saudável, mas insiste em dizer-me que não estou bem. Nutro o corpo, treino-o, mas não me faço acompanhar de ninguém. Não posso. Permiti-me repousar aqui para ganhar saúde e tudo o que ganhei foi uma prisão perpétua. Sinto-me um selvagem, um ser sem rumo, com um único propósito: existir. Existir dentro desta casca que tenho de alimentar. Eu sou casca, porque dentro já não levo coisa nenhuma. Os meus neurónios desapegaram-se das conexões cerebrais, comandam exclusivamente o aparelho locomotor, enquanto que no cérebro são apenas um chocalho tosco sem nexo. Salto de pedaços de pensamentos em pensamentos e nunca termino o raciocínio. O discernimento fugiu para o couro cabeludo, não faz parte das minhas opções. Aqui tudo é luminoso, brilhante e claro, mas na minha mente não há sol, é sempre inverno tempestuoso.

Hoje pesquei. Não me perguntem o quê, porque não os sei distinguir. O sabor eu já conheço de cor, pois é um dos que rompe muitas vezes no suposto anzol que inventei com um espinho de cato. Mais tarde, sentei-me em meditação, mas a noção esquiva-se e o sol queima que nem lava. O foco desfoca-se e a pele arde.

Queria ouvir o som das ondas do mar, mas tornou-se quase inaudível, pela presença ininterrupta. Ao início era relaxante, forte, penetrante, quase como minha cúmplice, agora… magoa-me.

A solidão magoa-me.

Agarrei-me a este caderno para não perder a cabeça. A cabeça não a perdi, perdi o sentido, talvez todos os sentidos do mundo. Escrevo aqui para me poder ouvir, porque a solidão entope-me os ouvidos e estas letras são a minha companhia. Eu sou a minha única companhia.

A que soa a tua voz? Não me lembro.

Quero recordar os corpos, o contacto, aquele teu toque no meu pescoço, o bafo húmido de uma respiração que não a minha. Não consigo! Não sei! Não encontro memórias desses tempos que me alberguem estes neurónios desconexos.

Escrevo, porque falar já não sou capaz, nem sei se me sai algum som pela boca. Terão as minhas cordas vocais enferrujado? Será assim que se transfigura o ser mais só da terra?

As frases formam-se na minha cabeça, através de imagens que já não sei verbalizar. Existem coisas que já não tem nome. Às vezes, nem eu tenho nome.

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