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Tem juízo, Joana!

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

02
Jan24

Mariana, aos teus 18 anos


Mariana,

O tempo galopou. Correu mais rápido que as rajadas de vento. As voltas ao sol foram na velocidade de um remate forte à baliza do adversário tempo.

Espero ter dado conta de tudo!

Aos teus 18 anos, espero ser uma mãe adulta porreira, que procures para amar e ser amada. Espero ser a mãe que desejaste no dia que me escolheste entrar no ventre. Espero que nutras exatamente o mesmo sentimento que tenho pela tua avó, não menos. Não desejo menos que isso! Que é tanto e um tanto que é tão bom! Como um abraço caloroso aveludado cheio de amor e com cheiro a sorrisos de jasmim…

Escrevo-te esta carta enquanto estás deitada no meu peito, o teu lugar preferido.

Às vezes estou cansada de só em mim dormires, de seres exigente, de quereres tanto a minha atenção, os meus braços, o meu tempo… Chove lá fora e o mundo pode até inundar que, para mim, aqui e

agora, o mundo está todo certo. Enquanto te vejo dormir…

Quero ver-te acordar também, para ser presenteada com o melhor sorriso de todos, aqueles que fazem dos teus olhos fechadinhos duas perfeitas luas minguantes.

A mãe é apaixonada pelo teu nariz arrebitado, herança feminina da nossa casta. Pelos teus lábios perfeitos e os teus olhos amendoados expressivos que me lembram todos os dias o motivo pelo qual me apaixonei pelo teu pai.

Cai-te o pouco cabelo que tens, clarinho e fininho, com cheiro a algodão. Quando ainda vivias no meu ventre quente, imaginei-te uma cabeleira farta e encaracolada, tal como eu. Não importa o que imaginei, tu superaste todas as minhas expectativas! És a mais linda carequinha e não queria que fosses doutra maneira!

Desejo que nos teus gloriosos 18 anos ainda viva a bebé arisca e atrevida que eu conheci hoje, que chama a atenção com falsas tosses, que brinca com os meus mamilos quando já não tem fome, que foge do sono como o diabo foge da cruz. Aos 3 meses de idade, és mais desafiante que qualquer emprego, és mais exaustiva que qualquer actividade física, principalmente nalgumas noites mais agitadas. Mas agora, nada disso importa, por isso mantém essa irreverência para a vida, meu bem, vais precisar dela neste mundo profano!

Segura também a graciosidade, não é à toa que és a “riqueza da avó” e a “bomboca do avô”, seduzes-los com apenas três dedos de conversa e não estou a exagerar!

Já dobras o riso, as tuas gargalhadas valentes fazem explosões de oxitocina no meu corpo cansado. Estás a conhecer o teu corpinho cor da neve, coberto de refegos e… fascinas-me! Com as tuas descobertas, com as surpresas de mais uma habilidade conseguida. És o meu mundo! E olha que a mãe tem muitos mundos, mas tu és o meu preferido!

Eu amo-te filha! Amo-te e todos os dias te amo mais… talvez agora, aos teus 18 anos, nem encontre uma palavra que caiba todo o meu amor por ti.

Não existe palavra com tal tamanho.

18
Nov23

Não decides tempestades


Tu não decides as tempestades. Tu és as tempestades!

Aquelas que rompem no céu encoberto de nuvens tenebrosas, zangadas, indomáveis.

As que te fazem tremer, que te eriçam o cabelo, que te cravam os maxilares um no outro, que te vincam as rugas até aos ossos.

És as cólicas que te revoltam o intestino, és os violentos gritos presos às cordas vocais, e, também, a cólera que mora no desespero do circunstancial.

Não controlas o mundo!

Não tens rédeas, não tens mapas, não há trilho que te faça caminhar direito.

Perdeste-te no arejar de um vento que inventaste. A bússola rodopiou vezes e vezes sem conta até não teres mais pontos fixos. Os cardeais perderam o norte, o sul, o este e oeste. E o que parecia garantido, de nada serve aos olhos irados do imprevisto.

Não decides as tempestades, elas decidem por ti!

Encharcam-te os sapatos de esperanças e orações mal ouvidas. Águas de tempestades vividas. Águas das dores que mais ninguém sentiu.

Não decides tempestades!

Cansada, olhas o céu de nuvens farto:

“As tempestades alguma vez param?”

— Não — responderam-te. — Mas os arco-íris também não. — reconheci-lhe a voz, vinda de longe, de onde as almas não têm nome.

A tempestade tem o peso das tuas cores.

06
Nov23

Maternidade - 6 SET 2023 -


Olho-te com cuidar, mesmo quando todo o meu cuidar parece pouco. Não te cansas de seres encanto, ainda que chores mais alto que as nuvens lá no céu.

As nuvens também conhecem o choro da mãe. Lágrimas de sacrifício, do que não tem preço afixado. Num par de horas, às vezes menos, com sorte mais, o meu corpo é o teu esteio, aproprias-te dele por tempo ilimitado. E ali, não só o peito, mas toda eu sou tua para a eternidade, tenha ela o tempo que tu decidires…

Alimentar-te, arde… numa dor fina como uma agulha incandescente. Não importa! Neste processo descobri que a minha tolerância à dor é um poço sem fundo. Ou que esta é a minha maior prova de amor por ti!

 

Não te amei logo. Puseram-te no meu colo e eras o calor, a húmidade, uma pele escorregadia. Não sabia quem eras, ainda nem sei bem. Era impossível amar. Eras um peso em cima do meu ventre e o sentimento era de superação, de realização, de alívio…

Fui-te amando, talvez todos os dias um bocadinho mais. Outros dias menos, confesso, sussurrando. Porque eras incompreensível para mim, porque me tornei a tua reclusa num mundo que eu não conhecia, porque és imprevisível e incompatível a grandes planos. Porque, porque, porque… porque eras a razão de me sentir sozinha no calabouço da maternidade.

Dizem que “quando nasce um bebé, nasce uma mãe”, tu nasceste, mas ainda não sei o que nasceu em mim. Se uma mãe, se uma mulher frágil, medrosa, triste e solitária. Se uma Joana insegura, a esbravear à pressa e atrapalhadamente a sua nova profissão de Mãe. Sou, tal como tu, uma recém-nascida à procura de saber quem sou agora.

 

Os dias foram-se preenchendo entre mamadas, trocar fraldas, vaguear pelos corredores para te adormecer. E quando se juntam as complicações, os dias tornam-se piores: mamilos macerados, mamas empedradas, cólicas, longos choros incompreendidos, doenças…

“Tudo passa” passou a ser o meu mantra diário, mesmo quando as dores, os choros meus e teus, parecem nunca mais terminar.

E as noites? Ah! Quando o sol se põe envolvo-me na ansiedade do que será mais uma noite contigo. Se me deixarás descansar mais do que uma hora de cada vez, se vais chorar e tirar-me a vontade de dormir, se vais adormecer instantaneamente ou se a meio da noite vais abrir os olhos e ficar a olhar para mim porque queres conversa.

O despertar é complexo. Visto que acordo sem ter dormido, então não se pode considerar acordar, acho eu. Apropriado seria dizer: levanto-me conforme se levanta o sol num céu de inúmeras possibilidades do que possa vir a ser o dia.

Mas… “tudo passa”…

É duro. E ninguém fala sobre isto. É duro e continua-se a tomar a maternidade como um processo maioritariamente garantido pela mãe. É duro quanto mais exigem que a mãe TEM DE SER capaz, porque “faz parte”,  “é o trabalho dela”, “está-lhe nos genes”, ou “é-lhe natural”. Não é. Nem sempre é. E uma profissão destas, com uma carga horária excessiva, fora todas as tarefas diárias, não devia ser delegada e responsabilizada a uma pessoa só. As expectativas sociais do que DEVE SER um bebé e uma mãe funcionam como um martelo pneumático nos nossos subconscientes quando os comportamentos saem ao lado do que seria expectável.

E eu preciso desta voz para bolçar tudo isto numa ávida golfada!

 

Tive medo, senti aflição, desespero, dor… e, principalmente… solidão. Porque no final dos choros, das rotinas, das fraldas, sou eu que serei o teu alimento, serei eu que quererás sempre. E tem tão de bom como de ambíguo este sentimento - um quentinho no coração versus uma cláusula perpétua cravada à minha liberdade que serás tu.

 

Tal qual como na história, no pé de feijão está o teu pai que tem sido um gigante com a minha débil fragilidade. No cimo do nosso castelo tu és a galinha dos ovos d’ouro dele e ele o mais forte e resistente!

Sei bem o quanto treme por dentro com a minha vulnerabilidade, mas também sei o orgulho que me percorre a pele quando me entrelaça nos seus braços com a força de um sismo para me trazer amparo, segurança e casa. Muita casa.

Ele é a tua paciência, a tua tolerância, a brincadeira louca, o amor à primeira vista.

Eu sou o teu sustento, o teu colo, a tua persistência, por vezes a relutância…

 

O conhecer-te um bocadinho mais todos os dias, traz-me a coragem e o acreditar que serei capaz de cuidar de ti por mais uns tempos (eternamente… até me habituar à ideia) o melhor que posso e o melhor que sei. És exigente… de uma exigência desmedida, larga e densa! Impões-te acima de qualquer outra eventual necessidade, já que só tu importas!

 

Neste caminho, aprendi que a elite da maternidade - todas as mães por esse mundo fora - são o sindicato mais bem organizado e solidário de sempre, que também me foi dando de beber a compreensão do meu desnorte, deram-me colo na solidão e alento no meu desespero. “Tudo passa”, disseram-me elas.

Enquanto mulher foi a sensação de maior união que senti em 34 anos de vida. (Devíamos agarrar-nos a este sentimento das mãos dadas e sermos mais solidárias noutros campos do matriarcado- fica a dica!)

 

Filha, a mãe vai-te amando do seu jeito, todos os dias um bocadinho mais. Vou-te amando no seio do dengo que só eu e tu conhecemos. Vou-te amando nos teus despertares bem-dispostos. Vou-te amando quando choras, implorando aos céus que não sofras mais… Vou-te amando no calor que fica entre o teu corpo e o meu nas madrugadas difíceis.

Vou-te amando quando me consigo encontrar com a tua alma através dos teus olhos arregalados fixos nos meus, até quando franzes o sobrolho à procura de compreensão. Vou-te amando exageradamente quando te vejo dormir serena e a esbanjares beleza. Vou-te amando irracionalmente, por ser inexplicável este sentimento que não sei entender, se não apenas sentir.

 

“Tudo passa” e enquanto vai passando,

A mãe vai-te amando…

 

P.S- deixo o meu puro agradecimento às mulheres da minha vida que não deixam que se me apague o brilho; e, por último, não menos importante, fica o meu eterno e ilimitado agradecimento ao melhor pai que a minha filha podia ter.

28
Ago23

O teatro da vida


No teatro da vida, somos atores de histórias escritas pelo destino, já traçadas pelos caminhos premeditados, algures esculpidos no tempo do cosmos.

Que tempo?

O tempo que só é tempo quando vivido, quando tem histórias para contar.

O destino roubou-nos a pesada caneta da responsabilidade e escrevinhou a nossa vida num rascunho: cada travessão, cada história; cada ponto, cada momento; cada risco, cada emenda; cada asterisco, cada marco importante.

Quem somos?

Atores de circos ruidosos que nem conhecemos. As trovejantes palmas que nos alçam os egos. A luz quente que ilumina os palcos da vida, somos esse foco num desfoco de nada.

Somos nadas.

Ou pequenos nadas que ajuntados são espectros de cores de profusas características. Somos todas as cores numa só, ou uma cor só refletida num espectro.

Oh destino! Destino!

Quem te escreveu?

Deu-te carvão bastante para riscar suavemente as folhas toscas, deixando um rasto a cheiro antigo que as impregnou. Deu-te vários capítulos numerados nas páginas ásperas da vida. Deu-te nomes timbrados a quente disforme. Deu-te actos esquecidos nos cenários mudos que partilhas nem sabes com quem.

Somos todos atores.

Personagens, emoções, somos o verbo ser conjugado em todos os pronomes pessoais. E todos são o Eu.

Somos caminhos já apontados por sinaleiros que rangem, crespos… fartos do tempo.

Temos várias vidas numa só e somos todos os parágrafos que alguém ficará para contar.

Entre cenas e encenações, no final da peça, todos seremos apenas histórias.

09
Dez22

A roda da vida


A roda da vida que rola, rolando uma conjeturada esfera sem vértices. Curva, como o tempo que não para. Redonda, como o abundante que a vida é.

A roda que vive na vida, como tudo o que rola ou que se enrola, pelos cenários impostos ou os campos onde é suposto rolar, uma simbiose equidistante entre vários pontos por ela formados.

Um círculo separado em partes, pelas partes que constroem o círculo, escalando a atenção e prioridades, assinalam-se os pontos e sublinham-se as dúvidas.

Foi traçado o panorama integral.

Neste momento da vida, a roda deixou de ser roda, mas rola na perpetuidade de si própria. Um rabisco de vértices com embaraço para rolar. Em partes perdeu o diâmetro, noutras ganhou distância, contudo a consistência permanece, como a gravidade que nos aprisiona ao solo.

Matuto nesta roda tosca que deixou de rolar assim que lhe escangalhei os pontos. É difícil ser-se equilibrado, sem desigualar as distâncias.

Aqui, ao invés de se atraírem, os opostos resolvem-se. Numa relação de interajuda, frente a frente, são o meio para atingir um fim. A boia de salvação um do outro.

Trabalhoso girar rodas em campos que quero estacionar… Então, desenrolo-me com este hieróglifo, porque sei o que devo privilegiar, sendo esfera ou disforme, estes são os meus atuais contornos. E mesmo se parecer absurdo fazer rolar esta vida desmedida, tenciono continuar a empurrar, pois rolando ou deslizando, com certeza deixarei sempre rasto.

———

👉🏻 publicação no #blog da @valletibooks REFLEXÕES Nº 49 04/12/2022.

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