Enterra
Enterra o que mais enterrado está.
Não te acanhes!
Vai de frente para que o vento te bata nas trombas,
Que te gele o cérebro e deixes de pensar merda por um minuto.
Mete bem o pé, esfrega,
Enterra o que mais enterrado está!
Até a minha persistência desiste
E a minha tolerância evapora.
Passa por mim como quem esquece,
Não como quem não vê, mas como quem escolheu não ver nunca mais.
No silêncio das palavras leva uma faca cega: que não corta, mas que fere lento.
Não se aguenta tamanha prepotência,
Tão magistral, tão cheio de si,
… E tão só.
Numa solidão cheia de culpa alheia,
sem responsabilização.
Mas enterra,
enterra o que mais enterrado está,
Pois a solidão é um vício e talvez prefiras assim.
Factos e factos sem conteúdo ou precisão,
Perspectivas únicas e unidirecionais.
Só tu sabes onde está enterrado, o que eu não sei e tu não queres esquecer.
Uma boca vazia de tudo e um coração cheio de nadas.
Enterra o que mais enterrado está,
Ficarás nessa bolha só tua
E não sobrará ninguém para te amar.
Não te rales com as questões do amor,
Interessa-te mais a honra, a razão e o poder.
Enterra o que mais enterrado está,
Enterra, enterra.
Mas aviso-te já que depois de enterrado,
O amor não ressuscitará.