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Tem juízo, Joana!

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

27
Mai24

Não sabemos nada sobre empatia


 

É fácil andar no nosso pé, nos pés dos outros não sabemos andar. É como ver um mundo tão tão longe que as pessoas viram formigas, é tentar focar algo quando se é míope, é como calçar uns sapatos de salto agulha e caminhar pela calçada portuguesa.

O que sabemos nós sobre a empatia? Nada.

Sabemos vestir a nossa pele, não sabemos o que é ser-se debaixo das peles dos outros, não sabemos a que cheira, ao que sabe, nem o que se sente.

Vislumbramos um filme tal qual as palavras e a imaginação que vamos absorvendo, mas não experenciamos as dores de vestir outra personagem.

Não sabemos o que é empatia.

Somos demasiado egoístas, egocêntricos, para sentir, de facto, o outro. Sabemos pouco desta arte de dançar nos sapatos alheios, ao ritmo das suas dores e alegrias. Somos daltónicos quando se trata de observar através dos tons da compaixão e  pintar num retrato da humanidade os gestos de amor e aceitação.

Somos pequenos, debaixo de tamanha indiferença. Somos tacanhos, de portas fechadas à conexão humana. Somos de plástico, não sabemos mergulhar nas profundezas das emoções do outro.

Somos cegos, quando tentamos enxergar dentro da névoa incerta da empatia.

Nada.

Nada.

Não sabemos nada.

Estamos perto, mas não dentro. Estamos juntos, mas não agregados. Estamos esponjosos, mas dormentes.

O que sabemos sobre empatia, afinal?

Coisa nenhuma.

É uma compreensão disfarçada, uma aceitação que vem oca. Contudo, é em cada gesto de gentileza e compaixão que nos aproximamos do ser e do ser humano.

15
Out22

Quando a lua dança


Noite que se pôs cedo, sob uma lua amarelada e cheia. Como ela odeia o horário de inverno, estes dias curtos e escuros, que a deixam mal-humorada. Segue pelas ruas de auscultadores postos a ouvir as músicas que fazem sentir-lhe as raízes. Por ali, a inveterar pelos ouvidos tudo o que ela é, vai andando ao passo que dança. O corpo contrai-se involuntariamente, está-lhe no sangue, não há como contrariar.

Estas cantigas recordam-lhe a infância, as festas de família, amigos e espectáculos de dança com variados grupos de que fazia parte, julga terem sido o cenário de semeadura daqueles ritmos na sua anatomia, entranhados por todos os orifícios.

Naquele passo díspar, num compasso dissonante dos demais que por ela passam, o olhar vai-lhe vazio, porque se olha a dentro e… Sorri, sorri de prazer com o que a faz sentir.

Nunca ouve uma música do início ao fim, quase como superstição, pois do trabalho até casa, ela tem de conseguir ouvir as melodias que lhe fazem vibrar o corpo.

Lá em cima a lua assiste, grande e magistral, a esta manifestação eloquente do que a junção de tambores lhe impõe à sua espécie, numa cadência e vigor como se não houvesse outro dia.

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👉🏻 também o podem encontrar no #blog da @valletibooks REFLEXÕES nº 38 - 18/09/2022

05
Set22

A cor dela


Ela veste-se da cor do sangue, só porque tem a mania de ser arrebitada e enérgica. É viciada no calor que o vermelho lhe transmite, quer à pele, quer à alma. Esse fogo que sente pelo corpo fora leva-a à loucura, aos sentimentos da paixão, do amor, da vivacidade, numa euforia plena de viver a vida a vermelho.

De uma personalidade carregada de força, segue de coração na boca, onde o vermelho também lhe pinta os lábios.

E no avermelhado ela perde-se, navegando pelas emoções de alta intensidade, as únicas que sabem preencher todo o seu volume.

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👉🏻 Também publicado no blog @valetibooks - REFLEXÕES Nº35 - 28/08/2022

12
Dez21

Insulto perverso


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Era vapor que te saía pelos poros, sentias o pulsar do coração na garganta, contraía-se todo o corpo, como se a impulsionar o sabor a fel até à tua boca. Com os maxilares solidamente cerrados e a visão a fazer-se turva a cada pico de adrenalina, deixaste-te cegar pela raiva.

Uma fúria escusada que nasceu na impotência de querer mudar as pessoas e o mundo. Não consegues! Entende de uma vez por todas, nem todos trajam o mesmo coração que tu. Exactamente por existirem tantas insuficiências nos corações que palpitam por aí, não deixes que brinquem com o teu. Não deixes que o peguem, suguem-lhe a água benta corrente no sangue e o pontapeiem como se ele resistisse, golpe após golpe, esquecendo o amor que lhe beberam.

Deixaste-te prostrar perante uma situação de injustiça, de ingratidão. Atropelaram-te, com espantoso descaramento, a compaixão, a gentileza, a generosidade. Insultaram-te o humanitarismo como quem te esbofeteia a estima.

Um descontrolo visceral manifestado num firme autodomínio, alienígena da língua habitualmente aguçada e bárbara, com um minucioso distanciamento da alma selvagem e impulsiva onde costumas morar.

Torna-se doloroso aprender assim. Não dissipes essa energia dourada com quem é daltónico, tão-pouco serão capazes de distinguir o arco-íris que pinta o teu amor.

Mas isto não te define, não és este dilatar enfurecedor prestes a eclodir. És arte, és as pessoas que amas, e, de mais a mais, és a razão dessa reciprocidade.

 

Imagem por Jan Koppriva, em pexels.com

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