Há de NÃO haver
Há o vento quente que não refresca,
há uma faca afiada num corte agudo e doloroso,
há um deserto com sede
e uma porta sempre fechada.
Há as chicoteadas que ficaram na pele calejada,
há o barulho aterrador ecoado nestes ouvidos surdos,
crentes na esperança,
na fé que mora nos olhares brilhantes.
Há uma culpa sem fundo
que não sabe ler,
que me trespassa o terceiro olho como uma flecha.
Há a mágoa de tanta pele esfolar,
de memórias que se afundaram,
de golpes calados pela paz clandestina,
e de vivências ressequidas, esquecidas ao sol,
com sabor a fel, a azedo,
de um amor outrora correspondido,
mas… cruel.
Hoje somos nada.
Cinzas, talvez.
Há a sombra de uma mancha negra que se forma no peito,
prova das nossas mãos dadas e cantigas até faltar o ar.
Há o rasto seco de lágrimas que correram anos,
sem um único amparo.
Lágrimas ignoradas pelo ego dominador
de quem tem óculos, mas não pensa ver,
de quem tem coração, mas não pensa amar…
Há uma raiva asfixiada,
pelas raízes quentes do chão de uma casa.
Depois há o silêncio.
E depois do silêncio uma pomba branca.
E depois o luto…
Há o vazio, sem nada para preencher,
porque só o meu amor sobra
neste desgosto sem desculpa,
neste mistério de mil razões que desconheço…
Ou que, simplesmente, não consigo compreender.