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Tem juízo, Joana!

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

01
Jan25

Reflexão 2024-2025


2024 foi uma lição sobre paciência, resiliência e amor incondicional. Foi um furacão de emoções, descobertas e desafios. Onde o cansaço e a alegria se misturaram em doses intensas, num ritmo de vida que exige entrega total.

 

Há uma magia especial no crescer… um riso atrás do outro, os passos atrapalhados, a inocência e, o que mais me encanta o coração, o espanto! Porque à medida que crescemos vamos perdendo-o… deixamos que o olhar se torne opaco diante do extraordinário que existe no quotidiano, quando as surpresas do mundo já não nos tocam mais, porque vivemos presos à repetição e à pressa.

A minha filha devolveu-me esse espanto e, de repente, tudo se tornou num lembrete de que o tempo é passageiro, mas os momentos são eternos.

Então, 2024, ensinou-me que a vida não é sobre perfeição, mas sobre presença.

 

Que 2025 me dê a mesma força para me renovar por entre os seus quatro dentes de cima e três em baixo, que os veja muitas vezes por entre as bochechas mais deliciosas que conheço. Que eu veja os dias pelos olhos dela e que os seus passos me ensinem a caminhar devagar.

Que este seja o ano de me reencontrar, de ter tempo para ouvir os sussurros de quem sou, nos silêncios roubados entre um dia e outro. De desacelerar sem culpa, de me dar pausas como presentes, de me lembrar que não preciso correr para ser suficiente.

Em 2025 quero voltar a olhar para o amor como quem o vê pela primeira vez, como se fosse uma nova história – antiga, mas viva. Que o riso partilhado seja o fio que nos entrelace.

E… quero todos comigo! Que cada abraço seja um pedaço de casa e que juntos celebremos tanto o simples, o grandioso como tudo o que a vida nos der para dividir.

 

Por viver com inteireza, hoje abraço o simples e verdadeiro, sabendo que, no fundo, tudo o que realmente importa é estar presente.

 

Vem-te dois mil e vinte e cinco!

14
Ago24

Há de NÃO haver


Há o vento quente que não refresca,

há uma faca afiada num corte agudo e doloroso,

há um deserto com sede

e uma porta sempre fechada.

Há as chicoteadas que ficaram na pele calejada,

há o barulho aterrador ecoado nestes ouvidos surdos,

crentes na esperança,

na fé que mora nos olhares brilhantes.

Há uma culpa sem fundo

que não sabe ler,

que me trespassa o terceiro olho como uma flecha.

Há a mágoa de tanta pele esfolar,

de memórias que se afundaram,

de golpes calados pela paz clandestina,

e de vivências ressequidas, esquecidas ao sol,

com sabor a fel, a azedo,

de um amor outrora correspondido,

mas… cruel.

 

Hoje somos nada.

Cinzas, talvez.

Há a sombra de uma mancha negra que se forma no peito,

prova das nossas mãos dadas e cantigas até faltar o ar.

Há o rasto seco de lágrimas que correram anos,

sem um único amparo.

Lágrimas ignoradas pelo ego dominador

de quem tem óculos, mas não pensa ver,

de quem tem coração, mas não pensa amar…

Há uma raiva asfixiada,

pelas raízes quentes do chão de uma casa.

 

Depois há o silêncio.

E depois do silêncio uma pomba branca.

 

E depois o luto…

 

Há o vazio, sem nada para preencher,

porque só o meu amor sobra

neste desgosto sem desculpa,

neste mistério de mil razões que desconheço…

Ou que, simplesmente, não consigo compreender.

18
Jul24

Somos nada


Somos pedaços de coisas e coisas cheias de pedaços.

Somos rasgos de dor, ardor, somos dores rasgadas, laceradas, cortadas.

Somos gritos, pele, cabelos, somos tudo e nada.

Somos recortes, cortes, fusões, colagens…

Somos o mar, as árvores, flores, somos reutilizados ou reciclagem…

Somos a paz, o céu, as tempestades, chuva, guerras e granada.

Somos tudo, mas não somos nada.

06
Nov23

Maternidade - 6 SET 2023 -


Olho-te com cuidar, mesmo quando todo o meu cuidar parece pouco. Não te cansas de seres encanto, ainda que chores mais alto que as nuvens lá no céu.

As nuvens também conhecem o choro da mãe. Lágrimas de sacrifício, do que não tem preço afixado. Num par de horas, às vezes menos, com sorte mais, o meu corpo é o teu esteio, aproprias-te dele por tempo ilimitado. E ali, não só o peito, mas toda eu sou tua para a eternidade, tenha ela o tempo que tu decidires…

Alimentar-te, arde… numa dor fina como uma agulha incandescente. Não importa! Neste processo descobri que a minha tolerância à dor é um poço sem fundo. Ou que esta é a minha maior prova de amor por ti!

 

Não te amei logo. Puseram-te no meu colo e eras o calor, a húmidade, uma pele escorregadia. Não sabia quem eras, ainda nem sei bem. Era impossível amar. Eras um peso em cima do meu ventre e o sentimento era de superação, de realização, de alívio…

Fui-te amando, talvez todos os dias um bocadinho mais. Outros dias menos, confesso, sussurrando. Porque eras incompreensível para mim, porque me tornei a tua reclusa num mundo que eu não conhecia, porque és imprevisível e incompatível a grandes planos. Porque, porque, porque… porque eras a razão de me sentir sozinha no calabouço da maternidade.

Dizem que “quando nasce um bebé, nasce uma mãe”, tu nasceste, mas ainda não sei o que nasceu em mim. Se uma mãe, se uma mulher frágil, medrosa, triste e solitária. Se uma Joana insegura, a esbravear à pressa e atrapalhadamente a sua nova profissão de Mãe. Sou, tal como tu, uma recém-nascida à procura de saber quem sou agora.

 

Os dias foram-se preenchendo entre mamadas, trocar fraldas, vaguear pelos corredores para te adormecer. E quando se juntam as complicações, os dias tornam-se piores: mamilos macerados, mamas empedradas, cólicas, longos choros incompreendidos, doenças…

“Tudo passa” passou a ser o meu mantra diário, mesmo quando as dores, os choros meus e teus, parecem nunca mais terminar.

E as noites? Ah! Quando o sol se põe envolvo-me na ansiedade do que será mais uma noite contigo. Se me deixarás descansar mais do que uma hora de cada vez, se vais chorar e tirar-me a vontade de dormir, se vais adormecer instantaneamente ou se a meio da noite vais abrir os olhos e ficar a olhar para mim porque queres conversa.

O despertar é complexo. Visto que acordo sem ter dormido, então não se pode considerar acordar, acho eu. Apropriado seria dizer: levanto-me conforme se levanta o sol num céu de inúmeras possibilidades do que possa vir a ser o dia.

Mas… “tudo passa”…

É duro. E ninguém fala sobre isto. É duro e continua-se a tomar a maternidade como um processo maioritariamente garantido pela mãe. É duro quanto mais exigem que a mãe TEM DE SER capaz, porque “faz parte”,  “é o trabalho dela”, “está-lhe nos genes”, ou “é-lhe natural”. Não é. Nem sempre é. E uma profissão destas, com uma carga horária excessiva, fora todas as tarefas diárias, não devia ser delegada e responsabilizada a uma pessoa só. As expectativas sociais do que DEVE SER um bebé e uma mãe funcionam como um martelo pneumático nos nossos subconscientes quando os comportamentos saem ao lado do que seria expectável.

E eu preciso desta voz para bolçar tudo isto numa ávida golfada!

 

Tive medo, senti aflição, desespero, dor… e, principalmente… solidão. Porque no final dos choros, das rotinas, das fraldas, sou eu que serei o teu alimento, serei eu que quererás sempre. E tem tão de bom como de ambíguo este sentimento - um quentinho no coração versus uma cláusula perpétua cravada à minha liberdade que serás tu.

 

Tal qual como na história, no pé de feijão está o teu pai que tem sido um gigante com a minha débil fragilidade. No cimo do nosso castelo tu és a galinha dos ovos d’ouro dele e ele o mais forte e resistente!

Sei bem o quanto treme por dentro com a minha vulnerabilidade, mas também sei o orgulho que me percorre a pele quando me entrelaça nos seus braços com a força de um sismo para me trazer amparo, segurança e casa. Muita casa.

Ele é a tua paciência, a tua tolerância, a brincadeira louca, o amor à primeira vista.

Eu sou o teu sustento, o teu colo, a tua persistência, por vezes a relutância…

 

O conhecer-te um bocadinho mais todos os dias, traz-me a coragem e o acreditar que serei capaz de cuidar de ti por mais uns tempos (eternamente… até me habituar à ideia) o melhor que posso e o melhor que sei. És exigente… de uma exigência desmedida, larga e densa! Impões-te acima de qualquer outra eventual necessidade, já que só tu importas!

 

Neste caminho, aprendi que a elite da maternidade - todas as mães por esse mundo fora - são o sindicato mais bem organizado e solidário de sempre, que também me foi dando de beber a compreensão do meu desnorte, deram-me colo na solidão e alento no meu desespero. “Tudo passa”, disseram-me elas.

Enquanto mulher foi a sensação de maior união que senti em 34 anos de vida. (Devíamos agarrar-nos a este sentimento das mãos dadas e sermos mais solidárias noutros campos do matriarcado- fica a dica!)

 

Filha, a mãe vai-te amando do seu jeito, todos os dias um bocadinho mais. Vou-te amando no seio do dengo que só eu e tu conhecemos. Vou-te amando nos teus despertares bem-dispostos. Vou-te amando quando choras, implorando aos céus que não sofras mais… Vou-te amando no calor que fica entre o teu corpo e o meu nas madrugadas difíceis.

Vou-te amando quando me consigo encontrar com a tua alma através dos teus olhos arregalados fixos nos meus, até quando franzes o sobrolho à procura de compreensão. Vou-te amando exageradamente quando te vejo dormir serena e a esbanjares beleza. Vou-te amando irracionalmente, por ser inexplicável este sentimento que não sei entender, se não apenas sentir.

 

“Tudo passa” e enquanto vai passando,

A mãe vai-te amando…

 

P.S- deixo o meu puro agradecimento às mulheres da minha vida que não deixam que se me apague o brilho; e, por último, não menos importante, fica o meu eterno e ilimitado agradecimento ao melhor pai que a minha filha podia ter.

29
Out23

• De que é feita a minha seiva? •


O toque na sola dos pés lembra-me de que são feitas as minhas raízes. Evoco a minha ancestralidade. Quero conhecer-lhes os egos e os temperos que se transportam de sangue em sangue, de mão em mão, de terra em terra e de coração em coração. Sou todas as raízes capazes de se sentir, de se ouvir, até mesmo de se cheirar. As raízes que ficam para lá da memória, em gerações quase imortais, que vivem mesmo debaixo da minha pele, debaixo da silhueta da minha alma, fincadas no vasto céu do meu ser.

Genes dos meus genes, sou os resultados dessas tantas histórias cheias de real, de existir, mística, guardados na mãe-terra.

Seremos nós o que sentimos?

Seremos nós a bagagem que carregamos?

Livros saturados de passados, narrativas que contam os viveres das consciências eternas. Anciãs biografias bafientas do decurso estendido nas encostas dos anos. Vestígios abençoados de tudo o que já foi vida.

Seremos nós essa colecção de antepassados?

Ou somos únicos e exclusivos, sem um pingo de existências anteriores?

Teremos oferendas guardadas de cada raiz no baú das origens?

Temos?

Mas afinal… de que é feita a nossa seiva?

Das raízes, de páginas de história, dos sentires… são feitas de idas e vindas de emoções e sustém-se na magnitude das nossas vivências, as que levamos de corpo em corpo.

Hum… de que é feita a nossa seiva?

De volumes, de existires… em nós e nos outros. Dos sangues que se misturaram nos orgasmos gritados nos séculos, das salivas que deram vitalidade aos beijos, aos amassos, aos corpos que se acoplaram para a posteridade. Somos essas massas, essa consciência primitiva.

Somos esse mesclar. Somos todos os progressos das gentes que sentem e das gentes que são. Somos seiva.

Eu sinto. Eu sou.

Sinto as raízes na sola dos pés.

Sou seiva.

De que é feita a minha seiva?

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