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Tem juízo, Joana!

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

26
Dez23

Carta ao pai Natal


Pai Natal,

Este ano queria uma bicicleta com campainha, para apitar a quem caminha a passo de caracol. Desta vez não desças pela chaminé, o meu pai mandou fechar aquela chafarica. Que desgosto! Vem pelo exaustor! Se não souberes, pede à tua ajudante que, apesar de zarolha, tem o mapa do prédio. Aproveita e leva umas rabanadas, eu não posso… estou um pote!

 

Um desafio de Natal:

Exactamente 63 palavras

Palavras obrigatórias:

- zarolha

- chafarica

- pote

- desgosto

- rabanadas

- chaminé

- caracol

- ajudante

 

26
Dez23

Delírios de Natal


Passa-me a taça dos sonhos.

Deixa-me entre o tenro e o estaladiço,

Põe em prática os teus engenhos,

Os nossos corpos num reboliço.

 

Enquanto os dedos lambo,

Suga-me os sonhos e a libido dela.

Com as ancas eu sambo,

Feitas de sonhos, às vezes canela.

 

Come-me os sonhos e as entranhas

Espalhando, pelo chão, o azevinho.

Enquanto a minha pele arranhas,

Com a língua, os teus prazeres adivinho.

25
Dez22

Um desafio sobre espírito natalício


Estrangula-me o peito
A Saudade

Arde, em dor
Luzes por toda a parte
Os abraços
Aquecidos
Família
Onde estás tu?
Vazio
Escuro
Recordar
Amargo
Pranto salgado
Agridoce
Fazes-me falta!
Canela
Arroz doce
Natal desguarnecido
O teu riso
Promete continuar
Eterna saudade
Estrangula-me o peito

--------
• sobre espírito natalício, sobre família e saudade • sobre o luto, mas, maioritariamente, sobre amor •

———
👉🏻 um desafio porAna, a abelha - 52 semanas de 2022 - o espírito natalício

👉🏻 este texto estará também no blog da @valletibooks - REFLEXÕES

23
Dez22

Tradição


Fui comprar os palitos de la reine, onde me mostraste no Natal passado. Estacionei na estrada de Benfica, gostavas de passear aqui e ver as montras de lingerie, pijamas, atoalhados, etc. Ias devagar, apoiada na tua bengalinha, as pernas punham-se dormentes e o corpo dorido pelo tempo árduo da tua genica interminável.

A cadeira onde te sentaste a descansar, na pastelaria, ainda lá estava, no mesmo sítio. Estava ela, não estavas tu!

Dói recordar… mas também é encantador reviver a lembrança das tuas mãos, de unhas pintadas num tom branco brilhante, postas nos dedos que já não tinham a direção certa, a remexer no porta moedas de pele preto para te certificares de que pagavas a despesa. Era o porta moedas mais organizado que eu alguma vez vira: notas num dos fechos laterais, moedas grandes no do centro e as pequenas ficavam no outro fecho lateral. Dentro tinha sempre um crucifixo que acreditavas dar-te proteção.

Fiz o caminho que me ensinaste até à casa de cafés e pedi à senhora que moesse o teu café de eleição para aquele doce de fazer crescer água na boca.

Senti-te ali comigo, a observares-me para teres a certeza que eu acertava com os sítios certos e cumpria a tua tradição.

Cumpri avó! Cumpri! Haverá doce de palitos de la reine lá em casa.

Só não haverás tu…

Então, decidi fazer-te uma visita. Ou melhor, estar presente naquele pedaço de relva onde enterraram parte das cinzas dos teus restos mortais. Achei que ali poderia ter uma ligação secreta que permitisse a nossa comunicação. Ou melhor, que facilitasse o teu poder de audição.

Não me deixaram entrar!

Da mesma forma que não me deixaram entrar no hospital nos teus últimos dias de vida.

Por hoje, teremos de comunicar como temos feito no último ano, porque, pelos vistos, os mortos também têm hora marcada para visitas.

21
Dez22

Bem-vindo inverno!


Gelou-me a ponta do nariz,

A ponta dos dedos,

Os pés custam a aquecer.

Tremeram-se os ossos

Que tentaram acordar na madrugada.

O ambiente sente-se frio,

Mas o aconchego é quente.

 

Na escuridão dos dias curtos,

A tristeza espalha-se rápido

Através dos tons cinzentos do céu e do fresco cruel do ar, que em neve se faz fluir.

O amor abraça-me

num sinónimo de família

Que agasalha calorosamente o meu coração

Onde a chama do outro é a brasa que me acalenta

Assim se achega o ambiente natalício

Com as suas luzes e as lãs que me vestem a pele

 

A chuva cai insana lá fora

E, desgraçadamente, me molha os pés,

Porém, com a mesma graça, é a que me faz adormecer em som de fundo

Enrolada numa manta felpuda

Num clima tórrido

Proveniente da lareira acesa.

 

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Um desafio proposto por Carlos Palmito (@c.palmito) na tentativa de descrever esta estação com um só sentido, sabem-me dizer qual é?

 

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