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Tem juízo, Joana!

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

11
Fev25

A história de uma alma


Sugaram-me a alma, levaram-me as cores primárias, secundárias e as tonalidades. Num suspiro, vim-me e fui-me como água que escorre pelo ralo, como fumo que se desvanece. Fui-me numa última nota de um Dó agudo, para um silêncio tão absoluto que me faz doer os ouvidos. Roubaram-me o sabor, o cheiro a Jasmim, o toque aveludado da tua pele, levaram-me o calor e os sentires do mundo. Nasci a preto e branco, num corpo estrelado transparente. Desapeguei-me do peso, daquele que arrendei para existir no que me pareceram breves instantes. Sou leve, livre de nomes, coisas e… há uma paz nas águas paradas deste crepúsculo indiscritível, quando o sol já se esconde mas o calor ainda persiste.

Inspiro a energia dos meus antepassados, mas nada sou, se não ser. Vivo nestes sopros de vários eus diluídos a pó, ora sólido, ora vento… Em cada respiração ecoam-se as memórias desta alma velha, vivida corpo após corpo, à procura de um propósito invisível aos olhos de quem sente a grandiosidade deste outro mundo.

Ouviu-se o som, o do adeus. Adeus àquilo que nunca foi meu, apenas emprestado. Deixei-me ir e voltei, voltei a algo maior. O nada que não doi, que não cobra, que apenas é.

09
Fev24

2 anos de luto - Espero que ela te conheça a energia


Tomo o café, todos os dias sem excepção, numa das tuas chávenas. Só porque acredito que assim te invoco para ao pé de mim. Que te sentarás à minha beira e me irás dar cavaco.
Até falo alto, sei que ouves mal… talvez agora pior!
Tento escutar-te, quiçá um sinal de que me estás a ouvir… nada! Mas a fé de que estás comigo consegue tornar-me mais surda que uma porta e ocupa-se de que cumpro sempre este ritual para te ter perto.
Falo-lhe de ti, sabes… conto-lhe como és(eras), das tuas traquinices, do teu português atropelado, das tuas rugas fundas. Encho-a de ti! Quero que ela te sinta, que te conheça como eu conheci!
Mostro-lhe fotografias e vídeos teus e rimo-nos as duas, ela nem sabe bem de quê. Na inocência dela espero que saiba quem és, quando te encontrar por aí… nos olhares que ficam a pairar no vazio.
Neste costume tão nosso, choro… choro a saudade eterna que terei de ti. Choro o lugar à mesa de quem a Mariana não usufruirá. Choro pelas gargalhadas castas que ela nunca ouvirá. Choro pelo colo que tanto me deu e que à Mariana não dará…
Mas ela leva um pouco de ti, eu sei! Encarregar-me-ei disso!
Dei-lhe uma parte do teu coração que trago comigo ao peito, dei-lhe as memórias e presumo que também a rebiteza e o fervor. Veremos…
Encarregar-me-ei de que ela viverá contigo, ostentará a tua graça e será abençoada só por te conhecer a energia.

✨2 anos a (sobre)viver sem ti, avó✨

11
Ago23

Eu deixo-te chorar


Eu deixo-te chorar,

enquanto a saudade te inunda o corpo.

Deixo que o silêncio te faça perder nas memórias que vivem em ti, nas palavras que tens para lhe dizer.

Acredito que precises de conversar com ele, têm muita conversa para pôr em dia.

Por cada lágrima que deixas cair sei que te aproximas dele, à medida que lavas a alma dos silêncios intermitentes que lhe fizeste.

Ele vive em ti!

Este é só o momento em que te aconchegas e sintonizas a tua energia com a dele que, de certeza e sendo testemunha do amor dele por ti, já existe à tua volta.

Sofres na sua ausência e sofres porque te dói imaginar um futuro em que ele não está.

Expressaste pouco acerca desta dor que conquistou um lugar à mesa nesse coração largo que trazes dentro do peito. Ambos sabemos que não precisas de falar sobre ela, mas sei o quanto respiras em dor debaixo da pele.

Por isso, eu deixo-te chorar…

01
Jul23

O sonho


Os teus olhos respiravam bravura,

És flor, mel e pedra dura.

No cabelo de raízes grisalhas,

Levavas a experiência, a bagagem de uma vida

Nos caracóis, enrolavam-se a ousadia e o destemor

Que te fizeram balancear as ancas e arrebitar o nariz.

Por entre nuvens, sonhos irreais, caminhavas nos meus pensamentos,

Vinhas na minha direção,

Conhecedora das saudades que dormem no meu coração.

De olhos fechados, vi-te chegar, dona, de emoções independentes.

Sou a soma das tuas partes e sem ti sou quase nada.

Quiseste chegar-te a mim, para me transbordar,

Num sonho real, senti a tua pele enrugada, o perfume…

Eras tu! E Passou a ser primavera debaixo daquele sonho que vivíamos…

 

O teu olhar era brilhante mas cansado,

A caminhada foi intensa.

“Tenho as pernas fagutas” - dizias no teu português-alentejano atropelado.

Sem saberes ler, nem escrever, juntavas sílabas com significado intuitivo e inventavas palavras que tocavam o senso comum.

Olhei-te com ar preocupado, tive medo, algum…

Que tivesses cansada de saltar entre as nuvens e de morar em todas as estrelas.

Nestes momentos, invejo o cosmos por te poder ter pelos infinitos pontos de luz que carregam a tua energia, o teu espírito.

E odeio poder ter-te apenas nos sonhos,

Que tal como este, o teu sentir é-me restrito.

No aconchego da tua casa, celebrávamos uma qualquer ocasião,

Chegaste atrasada, mas iluminaste as sombras que vivem por detrás de cada coração.

 

Queria que durasse para sempre,

Aquela frase, aquele olhar…

Queria tatuar-te no coração, que perdurasse a sensação de te ter comigo.

Tenho medo que o tempo apague estas memórias, por isso escrevo-as…

Sangro aqui!

No papel que reflete a tua imagem,

Num sonho surreal, de branco

Trazes-me uma mensagem.

 

Eu levo-te, aos teus caracois, as tuas mãos deformadas, a tua voz meiga e arrebitada, levo comigo.

Trago tudo debaixo da pele!

08
Mar23

Faz um ano


Faz um ano que nasceu uma estrela nos mundos feitos de outras partículas energéticas. No mundo das coisas palpáveis, deixou as carnes, as ossadas e os pertences.
Faz hoje um ano.
Foi a minha primeira volta ao sol de uma dor vazia, mas cheia de recordações, impotente, mas crucial ao crescimento. Podia chamá-la de dor fantasma, oca, também uma constante moinha no peito… não sei, não sei definir melhor.

Estivesses tu aqui e que eu pudesse desfrutar do teu sorriso, do teu cheiro a colo. Doí-me agora a tua transparência… uma dor desabitada… que me impede de te tocar.
Visitas-me nos sonhos, onde tento matar a fome insaciável de te ter comigo, de te sentir.
Queria-te aqui!
Doi-me até lembrar… mas tão pouco me quero esquecer. Do quanto - Noa- o teu perfume, me cheira a casa, a ninho, a amor. Do sabor imbatível do teu bolo de cenoura mal cozido, que me enchia as peles, que só tu as vias. Das palavras que não sabias dizer porque nunca aprendeste a ler, nem escrever, mas também nunca deixaste de te saber exprimir.
Quem te conheceu, sabe da fortuna que falo. Censuravam-te a franqueza, que derrubavas qualquer um num abalo.
Da tua simples e limpa casinha com cheiro a arroz de cabidela. Fazias-lo exclusivamente para nós, com um enorme sorriso, numa enorme panela.
Das tuas mãos ásperas, deformadas do tempo, mas que estavam sempre a tempo de um cafuné.
Sabes é… desta ternura interminável que sinto falta. Da tua voz meio rouca, mas esganiçada como a da mãe. É a tua doce travessura que me faz ir às lágrimas… porque é disso que mais tenho saudades diárias.
Faz um ano, avó. Faz um ano que falamos entre os silêncios. Faz um ano que rezo, só porque acredito que assim me possas ouvir melhor. Faz um ano que aos sábados de manhã, bebemos café e eu conto-te as novidades. Faz um ano que nada vence a dor da tua ausência. Mesmo depois de um ano a sentir-te omnipresente.

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