O sonho
Os teus olhos respiravam bravura,
És flor, mel e pedra dura.
No cabelo de raízes grisalhas,
Levavas a experiência, a bagagem de uma vida
Nos caracóis, enrolavam-se a ousadia e o destemor
Que te fizeram balancear as ancas e arrebitar o nariz.
Por entre nuvens, sonhos irreais, caminhavas nos meus pensamentos,
Vinhas na minha direção,
Conhecedora das saudades que dormem no meu coração.
De olhos fechados, vi-te chegar, dona, de emoções independentes.
Sou a soma das tuas partes e sem ti sou quase nada.
Quiseste chegar-te a mim, para me transbordar,
Num sonho real, senti a tua pele enrugada, o perfume…
Eras tu! E Passou a ser primavera debaixo daquele sonho que vivíamos…
O teu olhar era brilhante mas cansado,
A caminhada foi intensa.
“Tenho as pernas fagutas” - dizias no teu português-alentejano atropelado.
Sem saberes ler, nem escrever, juntavas sílabas com significado intuitivo e inventavas palavras que tocavam o senso comum.
Olhei-te com ar preocupado, tive medo, algum…
Que tivesses cansada de saltar entre as nuvens e de morar em todas as estrelas.
Nestes momentos, invejo o cosmos por te poder ter pelos infinitos pontos de luz que carregam a tua energia, o teu espírito.
E odeio poder ter-te apenas nos sonhos,
Que tal como este, o teu sentir é-me restrito.
No aconchego da tua casa, celebrávamos uma qualquer ocasião,
Chegaste atrasada, mas iluminaste as sombras que vivem por detrás de cada coração.
Queria que durasse para sempre,
Aquela frase, aquele olhar…
Queria tatuar-te no coração, que perdurasse a sensação de te ter comigo.
Tenho medo que o tempo apague estas memórias, por isso escrevo-as…
Sangro aqui!
No papel que reflete a tua imagem,
Num sonho surreal, de branco
Trazes-me uma mensagem.
Eu levo-te, aos teus caracois, as tuas mãos deformadas, a tua voz meiga e arrebitada, levo comigo.
Trago tudo debaixo da pele!