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Tem juízo, Joana!

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

22
Set24

Fome


 

Tenho muita fome. Dizem que o nosso corpo confunde fome com sede. Será que tenho sede? À procura de um copo de água, palpo a mesinha de cabeceira, não está lá. Que raio! Palpo do outro lado, também não está lá. Estou deitado, ainda com a camisa que usei no dia anterior, sinto-lhe os botões na barriga, mas não estou na cama. Abro os olhos, confuso e preocupado, onde raios estou?

Custava-me encarar o sol, era brilhante e tão quente que secava a saliva toda que pudesse existir na boca.

Tenho fome. A minha mãe costumava fazer-me um bitoque com ovo a cavalo, que chegou a ser dos meus pratos preferidos. Um certo dia, estava ela descontraída no seu emprego, recebe uma chamada do diretor da minha escola, a dizer que tinha pegado fogo à secretaria onde me sentava. Nesse dia, cheguei a casa e a minha mãe, que já tinha a refeição pronta, perguntou-me furiosa, com a sua voz esganiçada como as das hienas quando riem alto, o que tinha na cabeça para pegar fogo à secretária, que era perigoso. E assim que encolhi os ombros, por não ter resposta para tamanha estupidez, o ovo que era supostamente a cavalo, levei com ele na tromba.

Mas eu tenho fome e este prado onde estou, cheio de espigas e milho a saltar as barbas, nada tem que me apetece comer. A minha boca parece um cinzeiro, tantos foram os cigarros que fumei ontem. Joguei às cartas com o meu primo, como vim aqui parar? Rafael, o meu primo, adora uma boa suecada e mulheres. Tanto que já lançou o charme para cima da minha. Não levei a peito, mas agora que aqui estou sem saber como, paira-me no pensamento que talvez me tenha embebedado para se enrolar com a Marisa. Imagino-lhe os gemidos, os balanços das ancas, sempre me deixou louco toda aquela sensualidade crioula.

Nem uma toalha me deixou, o meu primo, tenho o corpo mesmo em cima destas espigas que me dão comichão!

Visualizo o horizonte vestido de nevoeiro, devo estar para trás dos montes do flaminguito, aquele rapaz dos negócios de chapeleiras. Muito dinheiro faz o rapaz! Eu comprei-lhe dois chapéus, uma vez. Um ofereci-o à Marisa, em caracol, com uma flor rosa e uma fita bege, ficou radiante e sempre o usara na praia do Alvor, com todas as estrangeiras a mirá-la. O outro foi para a Maria Helena, a pequena pediu-me um chapéu de fita amarela com várias flores coloridas, como a alma dela – colorida. Agora que pensava nela, enchiam-me os olhos de lágrimas. Saudade. Onde anda a minha menina? Agora, nos seus dezoitos anos de juventude, enamora-se com uma facilidade louca!

Sou velho e perco-me nos mil e um pensamentos… como vim aqui parar? Levanto-me com dificuldade, quem diria que já fui maratonista de medalha de bronze. Endireito as costas.

— Está aqui! Estás aqui! Vês o que acontece quando te deixo sozinho?— oiço ao fundo, uma voz familiar a aproximar-se. É bonitinha, com um sorriso primaveril. Como não sei quem é, dou-lhe um olá tímido, ela abraça-me, parece preocupada comigo. Traz um chapéu florido, de fita amarela. Sorriu-lhe, sei a origem daquele chapéu, por isso devo estar perto de casa.

— Vamos, pai!

24
Jan24

APOTERA- o desafio


- Desafio de escrita -
11 frases, em cada frase 7 palavras a começar pelas letras A P O T E R A.

A Paixão Orienta Todo Esforço Realizando Aspirações
Admiro-me, Possivelmente Obcecado, Ter Esta Rapariga Aqui!
Ai Pobre Orquestra! Tentas Esforçar-te Rigorosamente a Amar…
Afinal, Puseste Orações Tendenciosas Em Rasas Asas,
Ajustas-te Propositadamente o Olhar, Triunfando Recompensas Aleatórias.
Amor Profundo Oferece Ternura E Reciprocidade Afetuosa!
Assim, Podes Olhar Também Este Receptivo Ancião.
Ama-te Por Observação Ténue E Requinte Afeto,
Altivez Pela Ousadia, Tornou-se Emocionante Recordar Aromas…
Assim, Porquanto, Obriga-se Temporariamente Em Renunciar Apego.
Agora, Pequenas Oferendas, Tornaram-se Experiências Ricas Alcançadas!

18
Nov23

Não decides tempestades


Tu não decides as tempestades. Tu és as tempestades!

Aquelas que rompem no céu encoberto de nuvens tenebrosas, zangadas, indomáveis.

As que te fazem tremer, que te eriçam o cabelo, que te cravam os maxilares um no outro, que te vincam as rugas até aos ossos.

És as cólicas que te revoltam o intestino, és os violentos gritos presos às cordas vocais, e, também, a cólera que mora no desespero do circunstancial.

Não controlas o mundo!

Não tens rédeas, não tens mapas, não há trilho que te faça caminhar direito.

Perdeste-te no arejar de um vento que inventaste. A bússola rodopiou vezes e vezes sem conta até não teres mais pontos fixos. Os cardeais perderam o norte, o sul, o este e oeste. E o que parecia garantido, de nada serve aos olhos irados do imprevisto.

Não decides as tempestades, elas decidem por ti!

Encharcam-te os sapatos de esperanças e orações mal ouvidas. Águas de tempestades vividas. Águas das dores que mais ninguém sentiu.

Não decides tempestades!

Cansada, olhas o céu de nuvens farto:

“As tempestades alguma vez param?”

— Não — responderam-te. — Mas os arco-íris também não. — reconheci-lhe a voz, vinda de longe, de onde as almas não têm nome.

A tempestade tem o peso das tuas cores.

21
Jan23

La vai ela…


Lá vai ela ao vento a pairar sobre lufadas de ar. Da cor de terra seca, aquela folha desprendeu-se do galho descendente do monumental e antigo Carvalho da Avenida. Não é simétrica e perdeu o aveludado, tornando-se estaladiça em virtude do pouco alimento. Desidratou, morreu e soltou-se ao vento. Está frio e uma aragem gélida, mas suave, que a vai empurrando para adiante, quando mais intensa, também a faz rodopiar, exibindo os seus contornos irregulares, com estreitos cortes quase até à nervura. Gira em torno do seu pedúnculo, numa dança com o vento, até se deixar cair silenciosamente na calçada.

-------

Um desafio proposto por Carlos Palmito: "sou uma folha ao vento, vejam como plano" tenta imaginar a cena e em narrador terceira pessoa descreve tudo o que conseguiste ver.

01
Out22

A 8.ªedição da revista Aorta já está disponível


E sabes que mais? Está emocionante!

Cada vez mais o tempo é uma ferramenta preciosa, por isso, se te peço para usares um pouco do teu para sentir o pulsar da nossa Aorta, é porque vale MUITO a pena!
👌🏼 Os artigos são interessantes, os entrevistados incríveis e uma literatura que merece um mergulho de cabeça!

 

🫀 Então, acede à revista aqui.

OU vai ao LINK NA BIO da @aorta.revista ➡️ acede a “nosso site” ➡️ e atira-te à 8.ª edição deste projecto que para além de alma, leva amor. 🫀

A minha coluna - intercâmbio - teve a honra da presença da inspiradora Lisa Lynn Ericson (@lisalynnericson ). Uma escritora que vibra os fados portugueses, numa simplicidade cheia de histórias não vividas por ela, mas escritas pelas suas mãos.

👉🏻Estamos na página 50, venham conhecer-nos!

❣️ Se não for pedir de mais, gostava muito que apoiassem também aquilo em que acredito: a Aorta - revista literária e PARTILHASSEM o nosso trabalho para podermos chegar a mais mundos, tanto nós, como os nossos excepcionais convidados!

Beijinhos, beijinhos e… tenham juízo! 🙏❤️

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