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Tem juízo, Joana!

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

02
Dez23

O canto da flor sem pétalas


Na penumbra do desconhecido, onde sombras dançam como versos, inicio este poema.

Sapateio ao som balanceado de um tempo que não sei se quero,

Se me engano, se me boicoto.

Dilema!

Amadureci ao compasso da Oliveira

Vi dias e noites e noites e dias

No cimo da resiliência

Tempo remoto…

 

Entre luzes e escuridões procuro-me e não me encontro,

mesmo no meio deste poema.

Sou uma flor sem pétalas,

Um pássaro sem penas,

Uma árvore sem folhas,

Sou terra, apenas.

Um céu sem estrelas,

Um deserto sem areia.

Sou cicatrizes e

Sou sequelas.

 

Das sombras nasce luz,

Na minha luz caíram sombras

Onde as memórias são favelas.

As luzes de mim se lançam

Pardacentas, águas bentas bafientas, cinzentas

Sujas pelas dores dos espinhos de rosas brancas.

Passo tempos na escuridão olhando pela única nesga que deixo aberta

O sol que de mim nasce e em mim se põe

Quero a liberdade, tudo o que é leve, livre, liberta!

Por essa nesga procuro a minha luz,

A certa!

 

A vida é um plantio,

Tanto se dá, como se tira!

Tanto escurece como clareia

Tanto é verdade como mentira

Tanto é lavradio como é apenas areia…

 

👉 Um desafio de escrita prescrito pelo meu grande amigo e escritor Carlos Palmito! 

 

18
Nov23

Não decides tempestades


Tu não decides as tempestades. Tu és as tempestades!

Aquelas que rompem no céu encoberto de nuvens tenebrosas, zangadas, indomáveis.

As que te fazem tremer, que te eriçam o cabelo, que te cravam os maxilares um no outro, que te vincam as rugas até aos ossos.

És as cólicas que te revoltam o intestino, és os violentos gritos presos às cordas vocais, e, também, a cólera que mora no desespero do circunstancial.

Não controlas o mundo!

Não tens rédeas, não tens mapas, não há trilho que te faça caminhar direito.

Perdeste-te no arejar de um vento que inventaste. A bússola rodopiou vezes e vezes sem conta até não teres mais pontos fixos. Os cardeais perderam o norte, o sul, o este e oeste. E o que parecia garantido, de nada serve aos olhos irados do imprevisto.

Não decides as tempestades, elas decidem por ti!

Encharcam-te os sapatos de esperanças e orações mal ouvidas. Águas de tempestades vividas. Águas das dores que mais ninguém sentiu.

Não decides tempestades!

Cansada, olhas o céu de nuvens farto:

“As tempestades alguma vez param?”

— Não — responderam-te. — Mas os arco-íris também não. — reconheci-lhe a voz, vinda de longe, de onde as almas não têm nome.

A tempestade tem o peso das tuas cores.

29
Out23

• De que é feita a minha seiva? •


O toque na sola dos pés lembra-me de que são feitas as minhas raízes. Evoco a minha ancestralidade. Quero conhecer-lhes os egos e os temperos que se transportam de sangue em sangue, de mão em mão, de terra em terra e de coração em coração. Sou todas as raízes capazes de se sentir, de se ouvir, até mesmo de se cheirar. As raízes que ficam para lá da memória, em gerações quase imortais, que vivem mesmo debaixo da minha pele, debaixo da silhueta da minha alma, fincadas no vasto céu do meu ser.

Genes dos meus genes, sou os resultados dessas tantas histórias cheias de real, de existir, mística, guardados na mãe-terra.

Seremos nós o que sentimos?

Seremos nós a bagagem que carregamos?

Livros saturados de passados, narrativas que contam os viveres das consciências eternas. Anciãs biografias bafientas do decurso estendido nas encostas dos anos. Vestígios abençoados de tudo o que já foi vida.

Seremos nós essa colecção de antepassados?

Ou somos únicos e exclusivos, sem um pingo de existências anteriores?

Teremos oferendas guardadas de cada raiz no baú das origens?

Temos?

Mas afinal… de que é feita a nossa seiva?

Das raízes, de páginas de história, dos sentires… são feitas de idas e vindas de emoções e sustém-se na magnitude das nossas vivências, as que levamos de corpo em corpo.

Hum… de que é feita a nossa seiva?

De volumes, de existires… em nós e nos outros. Dos sangues que se misturaram nos orgasmos gritados nos séculos, das salivas que deram vitalidade aos beijos, aos amassos, aos corpos que se acoplaram para a posteridade. Somos essas massas, essa consciência primitiva.

Somos esse mesclar. Somos todos os progressos das gentes que sentem e das gentes que são. Somos seiva.

Eu sinto. Eu sou.

Sinto as raízes na sola dos pés.

Sou seiva.

De que é feita a minha seiva?

23
Ago23

Versos da Terra: A Jornada da Filha da Natureza


Sinto o frio percorrer-me desde o calcanhar às pontas dos dedos dos pés,
Cheira a terra molhada!
Um verde intenso, faz-me sorrir pela magia que se inspira por entre as árvores antigas

De mim exalam perfumes de eras remotas, as cores sabem a algodão-doce, a caramelo, aos nenúfares dos lagos nos quais a vejo entrar.
Permito que se banhe, envergando o fato que os seus pais lhe deram à nascença… a pele é leite, os cabelos uma floresta, os olhos, de uma criança que pisa este meu mundo pela primeira vez.

Nada me mete medo, sou filha da terra e os meus pés sabem o caminho para o seu coração.
O mistério conduz-me ao verde intenso, de sons extraordinários e uma escuridão que não amedronta, mas que afronta.
Trago a coragem ao peito e a rebeldia debaixo dos caracóis infantis… sou filha da terra!

Conduzo-a numa valsa, a dança entre a natureza e a beleza, torno-a rainha deste lar que sou eu, desta casa na qual a permito entrar.
As ervas roçam-lhe os tornozelos, afavelmente… nos troncos existem colmeias de mel, criadas no inicio dos tempos, mel com que a sacio, com que a deleito… os musgos são a frescura, as sombras um jogo… ao longe, aranhas tecem camas de embalar… para ela, a minha floresta trabalha, como um príncipe encantado cavalgando um alazão em direção à paixão.

 

👉 poema a duas mãos com Carlos Palmito 

 

11
Jul23

Sobrevoar Lisboa


Sinto uma enorme pressão no cocuruto, sempre odiei as descolagens graças a esta bizarra sensação de aperto da cabeça às nádegas. Decido distrair-me com a janela e apreciar a paisagem. Vejo as margens do rio unidas pela ponte, que harmoniosa que é, com as suas cores de tijolo aos losangos imponentes sobre a água. Admiro-os melhor por cada vez que o avião muda a direção para se alinhar rumo ao destino. 

Da baixa lisboeta ergue-se a cidade nas encostas feitas de história como tantas que vivenciei, talvez com um pouco de álcool a mais no sangue. Passa-me um frio arrepiante pela pele, desligo o ar condicionado e volto-me novamente para sentir Lisboa. A torre de Belém e o Castelo de São Jorge são os monumentos onde escolho pousar o olhar. Grandiosos monumentos em pedra soberbamente construídos ali há tantos anos atrás, com um propósito que não é o mesmo de hoje. Ao fundo observo a serra de Sintra e vêm-me à memória os cheiros da minha infância. O musgo húmido e o cheiro a terra molhada fazem-me recordar o caminho até à vida adulta que, forçosamente, me deu acesso direto a este lugar confortável onde vou sentada agora. Já na trajetória certa, vejo toda a costa e o mar cheio de espuma resultante da sua tormenta. Em instantes, a espuma passa a ser um fino fio branco bem lá em baixo e as nuvens começam a surgir, tornando-se numa camada cinzenta quase opaca. Lisboa está triste, não pelo nevoeiro, mas pela minha partida!

——
👉 Um desafio do curso de escrita criativa de @analitaalvesdossantos

 

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