Sem querer
Foi sem querer que te quis, num pestanejar involuntário que nem dei conta. Querendo ou não, vieste em pontas dos pés fazer bailados no meu coração… embruxaste-o. Cantaste-me serenatas com a ponta da língua, soubeste balançar o teu corpo no meu. Os teus dedos tateavam-me a pele e os olhos magnetizavam-se nos meus.
Não podia, mas foi sem querer. Não queria, mas foi num fino querendo que te quis.
Levaste de mim a concentração, o autodomínio, levaste-me a coerência, a sanidade… Deixaste-me despida num mundo cheio de risos, desejos e dissabores.
Amargos foram os primeiros goles da paixão perfumada de ti, os seguintes passaram de doces a viciantes, maníacos, obcecados…
Era inflamável o desejo e fazia-se arder, nas sombras do meu ser, todo o sentimento que, sem querer, senti… por cada vez que fechava os olhos, era a tua imagem que aparecia na escuridão, assim, sem querer…
Era sem intenção que o pensamento pousava em ti, como uma agulha num gira discos de bossa nova e balançava-se por entre as brumas dos meus desejos e as colorações garridas do meu amor por ti.
A razão perguntava-me o que estava eu ali a fazer. O coração sabia a resposta, mas sem saber responder o amor cresceu orgânico, sem pedir explicações. E emaranhei-me no existir contigo, que já nem sei existir sem ti.
Foi sem querer que não consegui parar de te querer.
Incontrolável.
indomável.
irresistível.
Cruzámos-nos no caminho um do outro para nos podermos fascinar com o ambiente criado com tão pouco, mas com tanto de nós. Cruzámos-nos porque tínhamos de vivenciar isto, tínhamos de sentir o sabor de um amor que trata a liberdade por tu.
Queria fazer-te rotina…Mas não posso! Enquanto isso, faço-te memória, daquelas bonitas de guardar.
Foi sem querer te quis e foi sabendo que queria que te amei demais.