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Tem juízo, Joana!

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

24
Jan24

APOTERA- o desafio


- Desafio de escrita -
11 frases, em cada frase 7 palavras a começar pelas letras A P O T E R A.

A Paixão Orienta Todo Esforço Realizando Aspirações
Admiro-me, Possivelmente Obcecado, Ter Esta Rapariga Aqui!
Ai Pobre Orquestra! Tentas Esforçar-te Rigorosamente a Amar…
Afinal, Puseste Orações Tendenciosas Em Rasas Asas,
Ajustas-te Propositadamente o Olhar, Triunfando Recompensas Aleatórias.
Amor Profundo Oferece Ternura E Reciprocidade Afetuosa!
Assim, Podes Olhar Também Este Receptivo Ancião.
Ama-te Por Observação Ténue E Requinte Afeto,
Altivez Pela Ousadia, Tornou-se Emocionante Recordar Aromas…
Assim, Porquanto, Obriga-se Temporariamente Em Renunciar Apego.
Agora, Pequenas Oferendas, Tornaram-se Experiências Ricas Alcançadas!

06
Nov23

Maternidade - 6 SET 2023 -


Olho-te com cuidar, mesmo quando todo o meu cuidar parece pouco. Não te cansas de seres encanto, ainda que chores mais alto que as nuvens lá no céu.

As nuvens também conhecem o choro da mãe. Lágrimas de sacrifício, do que não tem preço afixado. Num par de horas, às vezes menos, com sorte mais, o meu corpo é o teu esteio, aproprias-te dele por tempo ilimitado. E ali, não só o peito, mas toda eu sou tua para a eternidade, tenha ela o tempo que tu decidires…

Alimentar-te, arde… numa dor fina como uma agulha incandescente. Não importa! Neste processo descobri que a minha tolerância à dor é um poço sem fundo. Ou que esta é a minha maior prova de amor por ti!

 

Não te amei logo. Puseram-te no meu colo e eras o calor, a húmidade, uma pele escorregadia. Não sabia quem eras, ainda nem sei bem. Era impossível amar. Eras um peso em cima do meu ventre e o sentimento era de superação, de realização, de alívio…

Fui-te amando, talvez todos os dias um bocadinho mais. Outros dias menos, confesso, sussurrando. Porque eras incompreensível para mim, porque me tornei a tua reclusa num mundo que eu não conhecia, porque és imprevisível e incompatível a grandes planos. Porque, porque, porque… porque eras a razão de me sentir sozinha no calabouço da maternidade.

Dizem que “quando nasce um bebé, nasce uma mãe”, tu nasceste, mas ainda não sei o que nasceu em mim. Se uma mãe, se uma mulher frágil, medrosa, triste e solitária. Se uma Joana insegura, a esbravear à pressa e atrapalhadamente a sua nova profissão de Mãe. Sou, tal como tu, uma recém-nascida à procura de saber quem sou agora.

 

Os dias foram-se preenchendo entre mamadas, trocar fraldas, vaguear pelos corredores para te adormecer. E quando se juntam as complicações, os dias tornam-se piores: mamilos macerados, mamas empedradas, cólicas, longos choros incompreendidos, doenças…

“Tudo passa” passou a ser o meu mantra diário, mesmo quando as dores, os choros meus e teus, parecem nunca mais terminar.

E as noites? Ah! Quando o sol se põe envolvo-me na ansiedade do que será mais uma noite contigo. Se me deixarás descansar mais do que uma hora de cada vez, se vais chorar e tirar-me a vontade de dormir, se vais adormecer instantaneamente ou se a meio da noite vais abrir os olhos e ficar a olhar para mim porque queres conversa.

O despertar é complexo. Visto que acordo sem ter dormido, então não se pode considerar acordar, acho eu. Apropriado seria dizer: levanto-me conforme se levanta o sol num céu de inúmeras possibilidades do que possa vir a ser o dia.

Mas… “tudo passa”…

É duro. E ninguém fala sobre isto. É duro e continua-se a tomar a maternidade como um processo maioritariamente garantido pela mãe. É duro quanto mais exigem que a mãe TEM DE SER capaz, porque “faz parte”,  “é o trabalho dela”, “está-lhe nos genes”, ou “é-lhe natural”. Não é. Nem sempre é. E uma profissão destas, com uma carga horária excessiva, fora todas as tarefas diárias, não devia ser delegada e responsabilizada a uma pessoa só. As expectativas sociais do que DEVE SER um bebé e uma mãe funcionam como um martelo pneumático nos nossos subconscientes quando os comportamentos saem ao lado do que seria expectável.

E eu preciso desta voz para bolçar tudo isto numa ávida golfada!

 

Tive medo, senti aflição, desespero, dor… e, principalmente… solidão. Porque no final dos choros, das rotinas, das fraldas, sou eu que serei o teu alimento, serei eu que quererás sempre. E tem tão de bom como de ambíguo este sentimento - um quentinho no coração versus uma cláusula perpétua cravada à minha liberdade que serás tu.

 

Tal qual como na história, no pé de feijão está o teu pai que tem sido um gigante com a minha débil fragilidade. No cimo do nosso castelo tu és a galinha dos ovos d’ouro dele e ele o mais forte e resistente!

Sei bem o quanto treme por dentro com a minha vulnerabilidade, mas também sei o orgulho que me percorre a pele quando me entrelaça nos seus braços com a força de um sismo para me trazer amparo, segurança e casa. Muita casa.

Ele é a tua paciência, a tua tolerância, a brincadeira louca, o amor à primeira vista.

Eu sou o teu sustento, o teu colo, a tua persistência, por vezes a relutância…

 

O conhecer-te um bocadinho mais todos os dias, traz-me a coragem e o acreditar que serei capaz de cuidar de ti por mais uns tempos (eternamente… até me habituar à ideia) o melhor que posso e o melhor que sei. És exigente… de uma exigência desmedida, larga e densa! Impões-te acima de qualquer outra eventual necessidade, já que só tu importas!

 

Neste caminho, aprendi que a elite da maternidade - todas as mães por esse mundo fora - são o sindicato mais bem organizado e solidário de sempre, que também me foi dando de beber a compreensão do meu desnorte, deram-me colo na solidão e alento no meu desespero. “Tudo passa”, disseram-me elas.

Enquanto mulher foi a sensação de maior união que senti em 34 anos de vida. (Devíamos agarrar-nos a este sentimento das mãos dadas e sermos mais solidárias noutros campos do matriarcado- fica a dica!)

 

Filha, a mãe vai-te amando do seu jeito, todos os dias um bocadinho mais. Vou-te amando no seio do dengo que só eu e tu conhecemos. Vou-te amando nos teus despertares bem-dispostos. Vou-te amando quando choras, implorando aos céus que não sofras mais… Vou-te amando no calor que fica entre o teu corpo e o meu nas madrugadas difíceis.

Vou-te amando quando me consigo encontrar com a tua alma através dos teus olhos arregalados fixos nos meus, até quando franzes o sobrolho à procura de compreensão. Vou-te amando exageradamente quando te vejo dormir serena e a esbanjares beleza. Vou-te amando irracionalmente, por ser inexplicável este sentimento que não sei entender, se não apenas sentir.

 

“Tudo passa” e enquanto vai passando,

A mãe vai-te amando…

 

P.S- deixo o meu puro agradecimento às mulheres da minha vida que não deixam que se me apague o brilho; e, por último, não menos importante, fica o meu eterno e ilimitado agradecimento ao melhor pai que a minha filha podia ter.

13
Mar23

Sem querer


Foi sem querer que te quis, num pestanejar involuntário que nem dei conta. Querendo ou não, vieste em pontas dos pés fazer bailados no meu coração… embruxaste-o. Cantaste-me serenatas com a ponta da língua, soubeste balançar o teu corpo no meu. Os teus dedos tateavam-me a pele e os olhos magnetizavam-se nos meus.

Não podia, mas foi sem querer. Não queria, mas foi num fino querendo que te quis.

Levaste de mim a concentração, o autodomínio, levaste-me a coerência, a sanidade… Deixaste-me despida num mundo cheio de risos, desejos e dissabores.

Amargos foram os primeiros goles da paixão perfumada de ti, os seguintes passaram de doces a viciantes, maníacos, obcecados…

Era inflamável o desejo e fazia-se arder, nas sombras do meu ser, todo o sentimento que, sem querer, senti… por cada vez que fechava os olhos, era a tua imagem que aparecia na escuridão, assim, sem querer…

Era sem intenção que o pensamento pousava em ti, como uma agulha num gira discos de bossa nova e balançava-se por entre as brumas dos meus desejos e as colorações garridas do meu amor por ti.

A razão perguntava-me o que estava eu ali a fazer. O coração sabia a resposta, mas sem saber responder o amor cresceu orgânico, sem pedir explicações. E emaranhei-me no existir contigo, que já nem sei existir sem ti.

Foi sem querer que não consegui parar de te querer.

Incontrolável.

indomável.

irresistível.

Cruzámos-nos no caminho um do outro para nos podermos fascinar com o ambiente criado com tão pouco, mas com tanto de nós. Cruzámos-nos porque tínhamos de vivenciar isto, tínhamos de sentir o sabor de um amor que trata a liberdade por tu.

Queria fazer-te rotina…Mas não posso! Enquanto isso, faço-te memória, daquelas bonitas de guardar.

Foi sem querer te quis e foi sabendo que queria que te amei demais.

21
Jan23

La vai ela…


Lá vai ela ao vento a pairar sobre lufadas de ar. Da cor de terra seca, aquela folha desprendeu-se do galho descendente do monumental e antigo Carvalho da Avenida. Não é simétrica e perdeu o aveludado, tornando-se estaladiça em virtude do pouco alimento. Desidratou, morreu e soltou-se ao vento. Está frio e uma aragem gélida, mas suave, que a vai empurrando para adiante, quando mais intensa, também a faz rodopiar, exibindo os seus contornos irregulares, com estreitos cortes quase até à nervura. Gira em torno do seu pedúnculo, numa dança com o vento, até se deixar cair silenciosamente na calçada.

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Um desafio proposto por Carlos Palmito: "sou uma folha ao vento, vejam como plano" tenta imaginar a cena e em narrador terceira pessoa descreve tudo o que conseguiste ver.

04
Dez22

O barman


Lá vem ela pedir novamente o seu vodka gingerel com aqueles olhos castanhos escuros expressivos, a condizer com a sua alegria contagiante e o sorriso que a acompanha para todo o lado.

Tem um humor característico, que segue todas as suas deixas, carregando o ar com um aroma nectarino de brincadeira.
Uma inocência que gosto de voltar a sentir, por tão transparente que é, tanto consigo ver o entusiasmo, como consigo sentir-lhe a amargura.
Gosta de sabores ácidos, mas aparenta uma alma tão doce, como se vivesse com uma criança dentro.
Talvez os sabores fortes, intensos a álcool, façam pandã com a sua personalidade vincada, de pêlo na venta, tal qual como o nariz arrebitado que se alteia cada vez que fala, para atestar a sua altivez e descortesia.
O cabelo volumoso, de caracóis rebeldes, revelam a sua independência e os lábios carnudos, a sua sensualidade.
Cada vez que a sirvo sinto uma energia carismática, tão atrativa, que é impossível resistir-lhe e não me deixar pousar-lhe o olhar por uns segundos.

———
👉🏻 um desafio proposto porCarlos Palmito, meu amigo e excelente escritor. Entre 100 a 200 palavras, descrever, sob a perspetiva de um barman, a minha pessoa, depois de lhe pedir uma bebida.

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