Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Tem juízo, Joana!

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

09
Dez22

A roda da vida


A roda da vida que rola, rolando uma conjeturada esfera sem vértices. Curva, como o tempo que não para. Redonda, como o abundante que a vida é.

A roda que vive na vida, como tudo o que rola ou que se enrola, pelos cenários impostos ou os campos onde é suposto rolar, uma simbiose equidistante entre vários pontos por ela formados.

Um círculo separado em partes, pelas partes que constroem o círculo, escalando a atenção e prioridades, assinalam-se os pontos e sublinham-se as dúvidas.

Foi traçado o panorama integral.

Neste momento da vida, a roda deixou de ser roda, mas rola na perpetuidade de si própria. Um rabisco de vértices com embaraço para rolar. Em partes perdeu o diâmetro, noutras ganhou distância, contudo a consistência permanece, como a gravidade que nos aprisiona ao solo.

Matuto nesta roda tosca que deixou de rolar assim que lhe escangalhei os pontos. É difícil ser-se equilibrado, sem desigualar as distâncias.

Aqui, ao invés de se atraírem, os opostos resolvem-se. Numa relação de interajuda, frente a frente, são o meio para atingir um fim. A boia de salvação um do outro.

Trabalhoso girar rodas em campos que quero estacionar… Então, desenrolo-me com este hieróglifo, porque sei o que devo privilegiar, sendo esfera ou disforme, estes são os meus atuais contornos. E mesmo se parecer absurdo fazer rolar esta vida desmedida, tenciono continuar a empurrar, pois rolando ou deslizando, com certeza deixarei sempre rasto.

———

👉🏻 publicação no #blog da @valletibooks REFLEXÕES Nº 49 04/12/2022.

30
Out22

Superpopulação


“Pessoas a mais tem o mundo”, pensou enquanto agitava o copo de uísque numa mão, na outra, segurava o telefone, aberto numa rede social qualquer.
“Pouco importa. Somos tantos aqui, como somos no mundo virtual.”, pousou o telefone, o scrolling excessivo trazia-lhe a solidão. “Somos tantos… e temos mais stories do que histórias, mais seguidores, que amigos de verdade…”, voltou a pensar, pelos vistos, a mãe terra tornou-se insuficiente e o mundo virtual tem de levar por tabela, coexistindo lá por longos intervalos de tempo.
Acendeu umas velas com cheiro a jasmim e aromatizou o ambiente com bossa nova, de copo na mão, balançava-se sem os pés darem conta, nem o seu cérebro saber.
Adorava finais de tarde, deslumbrava-se com o alilazar do céu, aquele momento egrégio que era o alvo de “regresso à calma”.
Respirava fundo, para se manter presente, cheirar a terra molhada que vinha das janelas abertas; a pele morena arrepiava-se sempre, aquele era o momento destinado à reflexão.
“Será que mais alguém repara na beleza deste céu?”, o cor-de-rosa que, serenamente, se estendia a azul, mesmo acima dos prédios, com as chaminés e antenas a interromperem o cromático de um céu que se prepara para adormecer.
Ao fundo, os fios elétricos do comboio que liga a capital à periferia, uma linha que atrai aglomerados de gente de todas as cores para sobreviverem num sistema onde o dinheiro se multiplica para os ricos, enquanto que para os pobres, o quadro não fica bonito!
Contam-se os tostões que já vão no bolso, porque debaixo da cama passou a ser arriscado. O dinheiro é reproduzido pelo suor do tempo, não há dicas nem magia que recheiem as contas bancárias das vidas destas almas; a finalidade deixou de ser a felicidade, o brilho nos olhos ao acordar, para ser a folga em dígitos numerários assim que se termina os pagamentos das despesas obrigatórias à vida.
Com o dedo indicador retirava os cabelos ruivos que lhe intersectavam a visão “Onde vamos parar?”, pensou, a ocidente matam-se com explosões, um tomo na história. Pólvora ensanguentada que faz banhar os pecadores de um falso poder. Um poder que não existe, pois a imortalidade é invisível e, afinal, todos morremos, somos todos subordinamos do grande mistério da vida e… da morte.
É interrompida pelo som da broca que advinha das obras no andar de cima. O vizinho vai ser pai e julga que aperfeiçoar o apartamento irá trazer maior felicidade à filha que aí vem. 
“Como pode o vizinho achar que a casa fará diferença, quando traz uma criança a um mundo carcomido destes?” E os ecologistas já disseram:
— A superpopulação é um problema sério. - “Mas ninguém quer saber! Nem o vizinho!”
O barulho continuava, “Como odeio apartamentos.”. 
Num só trago bebeu o que restava da bebida, deixou o gelo a tilintar no copo e os pensamentos a marinar no oceano do seu juízo. 
Aquela maré cheia de um mar revolto de reflexões, vazou… até à próxima lua, que num entardecer bonito como aquele, voltará a ganhar ondas de senso e, talvez, quiçá, transformar-se-á em maremoto.
 
👉🏻 poderás encontrá-lo também no blog da @valletibooks REFLEXÕES N°44 - 30-10-2022 e no Spotify do blog da Valletibooks.


Autoria: Tem juízo, Joana
Declamação: Tem juízo, Joana & Carlos Palmito
Produção: @Valletibooks - Luiz Primati
24
Out22

A recordação


Se a memória não me falha, teria todas as memórias duma vida.

Procurar a memória mais antiga dentro de tudo o que é passado,

é pedir ao cérebro para ser um enorme depósito de imagens, sensações, cheiros e emoções.

Recordações que se sobrepõem conforme o peso, tamanho e marcas no percurso.

Á medida que andamos em marcha atrás, fica estranho o discurso.

Cada vez mais baça a memória, acalenta a nitidez apenas

Os momentos que, dalguma forma, mantém a forma em pensamento.

É então que o fluido fresco desce-me a garganta.

Paira no ar a memória do que era a sede. Naquele dia de verão, a sede era o que me afligia,

Pelos gastos excessivos de energia,

Como por magia.

Era água que eu bebia aflitivamente,

de olhos postos na garrafa

E os pés na área quente.

O fresco que senti pelo queixo, peito, barriga e coxas.

Deixei entornar, as habilidades eram frouxas,

A sede abundante.

Numa manhã a construir castelos

Em areia escaldante,

para princesas imaginárias,

com esperança que um dia me torna-se numa.

Oh… aqui não há monarquias e a sede matou-se,

num trago cheio de pressa!

Como se mata tudo o que nasce,

como acaba tudo o que começa.


👉🏻também podes encontrar este texto no blog da @valletibooks - reflexões n° 43 ou até ouvir no podcast da Valletibooks no #spotify

28
Set22

Já é outono!


3AB48426-E9EF-47A4-ADA7-2E9A80C878CE.jpeg

Tal qual um ciclo,

As folhas desprendem-se

Morrem e caiem

Acompanham-nas as primeiras gotas de chuva

Com um rasto a terra molhada e folhagem

 

Na concha das mãos levam-se frutos secos, figos, nozes e afins

As castanhas impregnam o ar

Assadas com erva doce

E água pé a acompanhar

 

Vestem-se os primeiros casacos

Ainda com o mofo da gaveta,

De uma época inteira guardados

À espera que o São Martinho apareça.

 

Os rituais das bebidas quentes,

Chá de erva-príncipe

Camomila ou lucia-lima,

Chocolate quente e cafés adoçados

São os aromas que ficam no ar

Carregado de cores terra e vermelho-alanrajados

 

E a avó cozeu os marmelos

Na avantajada e antiga panela

Aromatizou o ambiente

Com o sagrado pau de canela.


👉🏻 também o podem encontrar no #blog da @valletibooks REFLEXÕES nº 39 - 25/09/2022

📸 by: Bruno Ismael Alves

05
Set22

A cor dela


Ela veste-se da cor do sangue, só porque tem a mania de ser arrebitada e enérgica. É viciada no calor que o vermelho lhe transmite, quer à pele, quer à alma. Esse fogo que sente pelo corpo fora leva-a à loucura, aos sentimentos da paixão, do amor, da vivacidade, numa euforia plena de viver a vida a vermelho.

De uma personalidade carregada de força, segue de coração na boca, onde o vermelho também lhe pinta os lábios.

E no avermelhado ela perde-se, navegando pelas emoções de alta intensidade, as únicas que sabem preencher todo o seu volume.

-----

👉🏻 Também publicado no blog @valetibooks - REFLEXÕES Nº35 - 28/08/2022

Mais sobre mim:

Segue-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Calendário

Agosto 2024

D S T Q Q S S
123
45678910
11121314151617
18192021222324
25262728293031

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D