Pedaços de pele à mostra
Muitas são as perspectivas do corpo e das modas. Muitas são as partes que andam de fora. Carne que sobressalta das mini-saias, dos calções. Saliências que sobressaem no decote. Umbigos que espreitam o cós das calças.
Hoje, com o partes do corpo de fora, venho-vos falar do constrangimento. Não do corpo. Mas, do revirar de cabeças, dos olhares, comentários, piadas, tentativas de assédio e assédios. O cortejo com o devido respeito afaga o ego, já os desapropriados, ordinários e grosseiros conseguem atormentar qualquer um.
É com algum azedume que admito não ser fácil sair à rua com a roupa preferida, decente, mas arrojada no que toca aos centímetros de pele à vista. Não é fácil sentirmo-nos confiantes ao espelho, para, assim que pomos um pé na rua, sermos olhadas com saliva na boca e olhos arregalados. Como se fossemos um granda bitoque cheio de batatas fritas com ovo a cavalo, no meio de um jejum com mais de 16h. Não é fácil. Nem justo. Ter de escolher roupa pelos olhos dos outros.
Porque o semi-escondido desorienta os cérebros minúsculos dos indecentes. Não sei de que material são feitos, esses cérebros, se de desrespeito, machismo ou se de testosterona até ao couro cabeludo que os impede de raciocinar de forma cortês. A discrição é chique, mas não faz parte dos gulosos do bairro. A valorização por debaixo de tudo o que se leva vestido, a beleza muito para além dos contornos dos corpos, também não fazem parte dos obscenos da socialite.
Custa ser mulher quando não se é respeitada, muito mais por desconhecidos, que assumem que um corpo à vista tem de ser regateado. Sem o mínimo de recato. Custa ser mulher quando somos violentamente obrigadas a abdicar da própria liberdade, a do corpo, para dizimar olhares, comentários, ou até pior.
Submeter um corpo a uma avaliação forçada. São adjectivos, bons ou maus, mas que não foram requisitados. Um corpo que não é publico e as opiniões acerca dele ainda são assuntos íntimos.
Imagem por: Catarina Alves - freezememories_