O colo da minha cama
Não me considero preguiçosa. Fazer, talvez seja o meu nome do meio. O mais complicado é terminar de fazer. No entanto, há algo que me custa imenso durante o dia... levantar o cu da cama! Custa-me a pele. Ficam-me a doer até as pestanas! Como se cada pêlo desses tivesse a fazer levantamento de halteres de 5kgs.
Já experimentei varias formas para que este processo fosse agilizado. Mas... até agora não há nada que vença o melaço, o vínculo, o enovelar do meu corpo amolecido, ainda frouxo, enrolado na suavidade dos lençóis, da minha cabeça pesada obstinada pela delicadeza da minha almofada.
Como se me arrancassem a vida a ferros... É isso: Acordar assemelha-se, para mim, a parir a vida a fórceps.
É um amor platónico pelo colchão de látex que se molda na perfeição ao meu corpo. A viscoelasticidade de uma almofada por quem suspiro. O conforto abusivo e extremamente fácil de encontrar, qualquer que seja a posição em que tenha o corpo. Torturam-me além da conta. E o snooze torna-se o meu melhor amigo nos 15 minutos seguintes, os mais dolorosos do meu dia.
A ferros, lá consigo. Durante 20 minutos de pé, sou a pessoa, de corpo pesado e ainda quente, que mais odeia o mundo, atormentada pela tortura a que submeti o corpo. E é uma luta interior entre o mau humor matinal típico da Joana e o esforço para sorrir. Um sorriso que surge, também a fórceps, entre a vontade e o sono. Na tentativa de agradecer genuinamente por mais um dia, quando tudo o que quero é implorar por mais uns minutos de perdição daquele repousar.
E por nada mais consigo agradecer, se não pelo aconchegante colo da minha cama.
Imagem por: Catarina Alves - Freezememories_