Não nos deixeis cair em tentação, Amen.
Ainda tenho um cordão umbilical. Talvez até vários. É através deles que sou nutrida pelos prazeres da vida. Tenho muitos. Por muita luta interior, sou dependente de todos os cordões umbilicais que tenho.
Lei do desapego? Não conheço. Às vezes fico de tal maneira enredada neles como um peixe fica preso nas redes de pesca. Há saídas nas suas redes, saídas pelas quais poderia passar, mas não quero. Deixo-me ficar ali emaranhada naquelas redes cheias de pedaços de vontades , impulsos e desejos. Como o olhar que não se desvia da cobertura de chocolate, que faz crescer água na boca. São impulsos, são desejos e vontades.
Se desenterrar bem as memórias, houve realmente muita coisa a que me desapeguei mas, pelos entroncamentos da vida e, não tanto, por escolha própria. Nunca gostei de escolher desapegar-me ou de desviar o olhar.
Deveríamos saber controlar os desejos humanos para conseguir seguir caminho. Já eu, perco-me neles. É um labirinto de loucos com coberturas de chocolate, cheio de “não nos deixeis cair em tentação”, mas cair, caímos todos! E voltamos a cair!
É difícil sermos fiéis a nos próprios, mantermos a firmeza no trabalho da alma, quando vivemos num mundo cheio de distrações. E eu, sou devotada em encontrá-las. Entro numa amnesia dotada das tentações do mundo. Repito vezes e vezes “e não me deixeis cair em tentação” mas o discernimento faz-me perder a perseverança. E os pecados, oh! são muitos.
Não há ámen que nos dê salvação. Resguardamo-nos nas orações à procura de perdões não sei bem de quem. De pecados com opção, mas onde as tentações têm o poder de mil homens e fundem-se com as vontades primárias do ser.
E, não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.
Sempre do mal e dos açúcares da vida.
Só porque o mal nos preocupa. Já as tentações... deixai-nos cair nelas.
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