Mil rótulos
Incrível como o ser humano involuntária ou voluntariamente mete rótulos a tudo.
Literalmente a tudo.
Não sei se para simplificar, para meter tudo em caixinhas e poder arrumar nas respectivas gavetas. Ou se para facilitar a identificação.
O que é certo é que todos nós o fazemos. Por genero, raça, cor, textura, forma, crenças, lateralidade, preferências, gostos, classe social... todos o fazemos! E, a maior parte das vezes, nem com intenção ou conscientes de que o estamos a fazer. E está tudo bem!
Os rótulos existem.
De facto limitam-nos. Criam circunferências em volta de riscos que não podes pisar. Ou que não era suposto pisar.
Desde que nascemos que são criados limites. Dão-nos um nome. Um nome! Que só o nome ja nos limita. Ora, eu sou a Joana, já não posso ser Aurora ou Tânia. Joana, será o nome a que me vão associar para o resto da vida. Associando experiências, vivências, memórias. Só a um nome!
Os rótulos existem.
Nascemos com eles e vamos associando novos mini-rótulos ao longo da vida. “Escolhe uma profissão”, mais uma circunferência. “Acreditas em Deus?”, outra circunferência. A própria sociedade foi-se desenhando assim. Simplesmente assim, tens de escolher de que circunferências te queres envolver.
Os rótulos existem.
E está tudo bem. Está tudo bem se não criarmos pisos de desnível entre circunferências. Se soubermos que cada um de nós não cabe num so rótulo com a receita perfeita e os ingredientes certos. Porque há ingredientes que vamos descobrindo ao longo do caminho. Se soubermos que podemos ser a mesma receita de ingredientes diferentes. Se soubermos que o que nos define está muito para além de rótulos circunflexos. Se soubermos que pisar o risco às circunferências pode fazer-nos muito mais felizes do que dentro delas.
Os rótulos existem.
Existem nas bocas do mundo.
Sítios onde somos em perspectiva.
Onde um ou mil rótulos nunca nos irão servir.
Imagem por: Catarina Alves - Freezememories_