Leio-te na nudez como um livro
Oceano é a imensidão que tens, consegues ser por marés todo o mar que levas dentro. Tanto és maré cheia na graciosidade, de sorrisos fáceis e corais coloridos, como és maré baixa quando na tristeza do silêncio te reconstróis. É nesse espaço que te escreves, de pés descobertos, onde consegues vislumbrar todo o arial dourado de que és feita. Conheces-te os defeitos, esmiuças-lhes as causas e, a partir daí, desenvolves a tua solidez, quase como uma rocha, para assim poderes regressar ao mar alto.
Distingues-te dos demais pelo coração que levas na boca e, tal como na boca, levas-lo na ponta dos dedos, como na mira dos teus olhos. Intensamente, ferves de amor, mas, do mesmo jeito, fervilhas na impulsividade da fúria, em palavras irreflectidas que nada mais querem demonstrar, se não a tua inquietude pela ingratidão, desrespeito e desumanidade. E pecas, pecas muito… por achares que sozinha és capaz de mudar um mundo que está completamente seco de empatia e apodrecido nas suas raízes, um solo infertil para pessoas como tu.
Reconheces tudo aquilo que és, entre o bom e o mau, um equilíbrio regrado, onde ditas as próprias regras. Só sabes ser assim, com uma leveza de dente-de-leão, que deixa o vento levar o que ruim é e guarda apenas o que é bom de guardar.
Nesta forma, despida do que querem que sejas, eu vejo-te inteira nesta perfeita complexidade. A tua intuição é crua, sem segundas intenções, de alma castiça e tão cristalina, inspiras a tua verdade, deixando-la bem armazenada ao peito. Mesmo vestida, mostras-te nua aos meus olhos, daquela nudez que fica na memória.
📸 por Catarina Alves - @freezememories