Esqueletos em mim
Tenho esqueletos, esqueletos desenhados num armário cheio de ossos.
Tenho aparições que me amolam, escondidas no âmago das aflições.
Das mortes de mim, tantos mins nascem, de ciclos em ciclos, avanços e recuos, onde se apaga e se faz luz. Por etapas se percorrem todos os espectros do que já fui. Deixo uns no passado, permito a outros que se me aferrem nos ossos e encarnem o meu esqueleto.
Das almas pobres, desnutridas do que é o alimento, eu guardo-lhes os esqueletos para o meu próprio fomento.
Amarro-me nas memórias, do que outrora foram em vida, sou parte dessa narração por tantos esqueletos vivida.
Embalo na angústia, o desprazer que lhes vislumbro, são esqueletos que desenho num armário e a saudade é cravejada nos ossos dessa não-existência.
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Imagem: https://kronicasdoloboinvernal.wordpress.com/2018/02/27/conto-esqueletos-no-armario/
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👉🏻 texto publicado no Blog da @valletibooks - Reflexões nº 8 - 20/02/2022