A dupla face do orgulho
Facilmente, sou orgulho. Das contraditórias perspectivas. Fui crescendo nesse material de folha dupla. Dupla face.
Uma face, a do nariz empinado e de caixa torácica expandida. A do ninguém me magoa, sou invencível. Aquela que mesmo doendo o peito, é um peito erguido e duma dignidade inabalável.
Um orgulho mastigável, que me enche os cantos vazios do ser. Agarro-me a ele só por segurança, daquela que não nos deixa cair pedaços, para não ficarmos desfigurados ou despidos.
Fui criada numa educação de gerações, onde o orgulho era obrigatório por ser uma qualidade que me permitia ser Alguém.
Hoje o orgulho não me permite nada, se não bloqueios. Constrói barreiras de betão difíceis dos outros chegar.
E para quê?
Nada constrói. A não ser o ego disfarçado de gente.
A outra face, aquela que também de caixa torácica expandida, mas de satisfação. Satisfação pelo prazer vivido da concretização própria e do outro, os que me são queridos. Aquele que a vida me foi ensinando pela experiência do amor.
Um orgulho cheio de nutrientes. Os nutrientes da alegria, da compaixão e do amor. O orgulho que nos traz lágrimas aos olhos por querer o bem. O que é oxigénio para seguir em frente com fé no universo e amor no coração.
Esse constrói os castelos das amizades, da vida relacional. Constrói amor.
Duplas faces tão opostas. Tão ambíguas.
Como pode ser uma pessoa tão cheia de ambas?
Imagem por: Catarina Alves - Freezememories_