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Tem juízo, Joana!

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

16
Dez22

ANOMALIA


Ficar onde não pertencemos,

Entulhar coisas e gente em nós

Ao mesmo tempo que nos sentimos sós.

Desaprendendo a voar, com tamanha opressão,

É viver com a pele, mas sem o coração.

 

Forrado, na camuflagem, sigo

Sei o que sou, aqui debaixo

O que os outros veem é só mais um rosto

Que se alinhou ao mesmo eixo

 

Não existe pausa no ser em sociedade

Não existe pausa para a realidade

A vida corre rua acima

Exalamos, em bafos crus, a verdade.

 

Não pertenço aqui,

Neste canil de imitações

Obrigados ao mesmo uniforme

Escondemos pensamentos e reprimimos emoções.

 

Legam este sentimento de inclusão,

Dão-nos circo, flores, água e pão.

Mas, se a nossa verdade entrar em dicotomia,

A sociedade expurga-nos como se fôssemos epidemia.

09
Dez22

A roda da vida


A roda da vida que rola, rolando uma conjeturada esfera sem vértices. Curva, como o tempo que não para. Redonda, como o abundante que a vida é.

A roda que vive na vida, como tudo o que rola ou que se enrola, pelos cenários impostos ou os campos onde é suposto rolar, uma simbiose equidistante entre vários pontos por ela formados.

Um círculo separado em partes, pelas partes que constroem o círculo, escalando a atenção e prioridades, assinalam-se os pontos e sublinham-se as dúvidas.

Foi traçado o panorama integral.

Neste momento da vida, a roda deixou de ser roda, mas rola na perpetuidade de si própria. Um rabisco de vértices com embaraço para rolar. Em partes perdeu o diâmetro, noutras ganhou distância, contudo a consistência permanece, como a gravidade que nos aprisiona ao solo.

Matuto nesta roda tosca que deixou de rolar assim que lhe escangalhei os pontos. É difícil ser-se equilibrado, sem desigualar as distâncias.

Aqui, ao invés de se atraírem, os opostos resolvem-se. Numa relação de interajuda, frente a frente, são o meio para atingir um fim. A boia de salvação um do outro.

Trabalhoso girar rodas em campos que quero estacionar… Então, desenrolo-me com este hieróglifo, porque sei o que devo privilegiar, sendo esfera ou disforme, estes são os meus atuais contornos. E mesmo se parecer absurdo fazer rolar esta vida desmedida, tenciono continuar a empurrar, pois rolando ou deslizando, com certeza deixarei sempre rasto.

———

👉🏻 publicação no #blog da @valletibooks REFLEXÕES Nº 49 04/12/2022.

30
Out22

Superpopulação


“Pessoas a mais tem o mundo”, pensou enquanto agitava o copo de uísque numa mão, na outra, segurava o telefone, aberto numa rede social qualquer.
“Pouco importa. Somos tantos aqui, como somos no mundo virtual.”, pousou o telefone, o scrolling excessivo trazia-lhe a solidão. “Somos tantos… e temos mais stories do que histórias, mais seguidores, que amigos de verdade…”, voltou a pensar, pelos vistos, a mãe terra tornou-se insuficiente e o mundo virtual tem de levar por tabela, coexistindo lá por longos intervalos de tempo.
Acendeu umas velas com cheiro a jasmim e aromatizou o ambiente com bossa nova, de copo na mão, balançava-se sem os pés darem conta, nem o seu cérebro saber.
Adorava finais de tarde, deslumbrava-se com o alilazar do céu, aquele momento egrégio que era o alvo de “regresso à calma”.
Respirava fundo, para se manter presente, cheirar a terra molhada que vinha das janelas abertas; a pele morena arrepiava-se sempre, aquele era o momento destinado à reflexão.
“Será que mais alguém repara na beleza deste céu?”, o cor-de-rosa que, serenamente, se estendia a azul, mesmo acima dos prédios, com as chaminés e antenas a interromperem o cromático de um céu que se prepara para adormecer.
Ao fundo, os fios elétricos do comboio que liga a capital à periferia, uma linha que atrai aglomerados de gente de todas as cores para sobreviverem num sistema onde o dinheiro se multiplica para os ricos, enquanto que para os pobres, o quadro não fica bonito!
Contam-se os tostões que já vão no bolso, porque debaixo da cama passou a ser arriscado. O dinheiro é reproduzido pelo suor do tempo, não há dicas nem magia que recheiem as contas bancárias das vidas destas almas; a finalidade deixou de ser a felicidade, o brilho nos olhos ao acordar, para ser a folga em dígitos numerários assim que se termina os pagamentos das despesas obrigatórias à vida.
Com o dedo indicador retirava os cabelos ruivos que lhe intersectavam a visão “Onde vamos parar?”, pensou, a ocidente matam-se com explosões, um tomo na história. Pólvora ensanguentada que faz banhar os pecadores de um falso poder. Um poder que não existe, pois a imortalidade é invisível e, afinal, todos morremos, somos todos subordinamos do grande mistério da vida e… da morte.
É interrompida pelo som da broca que advinha das obras no andar de cima. O vizinho vai ser pai e julga que aperfeiçoar o apartamento irá trazer maior felicidade à filha que aí vem. 
“Como pode o vizinho achar que a casa fará diferença, quando traz uma criança a um mundo carcomido destes?” E os ecologistas já disseram:
— A superpopulação é um problema sério. - “Mas ninguém quer saber! Nem o vizinho!”
O barulho continuava, “Como odeio apartamentos.”. 
Num só trago bebeu o que restava da bebida, deixou o gelo a tilintar no copo e os pensamentos a marinar no oceano do seu juízo. 
Aquela maré cheia de um mar revolto de reflexões, vazou… até à próxima lua, que num entardecer bonito como aquele, voltará a ganhar ondas de senso e, talvez, quiçá, transformar-se-á em maremoto.
 
👉🏻 poderás encontrá-lo também no blog da @valletibooks REFLEXÕES N°44 - 30-10-2022 e no Spotify do blog da Valletibooks.


Autoria: Tem juízo, Joana
Declamação: Tem juízo, Joana & Carlos Palmito
Produção: @Valletibooks - Luiz Primati
15
Out22

Quando a lua dança


Noite que se pôs cedo, sob uma lua amarelada e cheia. Como ela odeia o horário de inverno, estes dias curtos e escuros, que a deixam mal-humorada. Segue pelas ruas de auscultadores postos a ouvir as músicas que fazem sentir-lhe as raízes. Por ali, a inveterar pelos ouvidos tudo o que ela é, vai andando ao passo que dança. O corpo contrai-se involuntariamente, está-lhe no sangue, não há como contrariar.

Estas cantigas recordam-lhe a infância, as festas de família, amigos e espectáculos de dança com variados grupos de que fazia parte, julga terem sido o cenário de semeadura daqueles ritmos na sua anatomia, entranhados por todos os orifícios.

Naquele passo díspar, num compasso dissonante dos demais que por ela passam, o olhar vai-lhe vazio, porque se olha a dentro e… Sorri, sorri de prazer com o que a faz sentir.

Nunca ouve uma música do início ao fim, quase como superstição, pois do trabalho até casa, ela tem de conseguir ouvir as melodias que lhe fazem vibrar o corpo.

Lá em cima a lua assiste, grande e magistral, a esta manifestação eloquente do que a junção de tambores lhe impõe à sua espécie, numa cadência e vigor como se não houvesse outro dia.

----

 

👉🏻 também o podem encontrar no #blog da @valletibooks REFLEXÕES nº 38 - 18/09/2022

15
Set22

Um possível fim


 

De que nos vale a inteligência ou a força humana, quando comparados à força da natureza?

Num mundo cheio de paisagens, criaram o homem cheio de impureza.

A catástrofe? Foi a ganância.

Os homens obcecados com cifrões e a terra que pisam deixou de ter importância.

Ambição pelo poder, quando o poder é apenas um estatuto.

Usou-se e abusou-se do planeta, julgando-o um recurso inesgotável e absoluto.

A extinção fez a guerra. Homens que se matam por terra.

E, inesperadamente, é a natureza que se revolta, zangada com a humanidade.

Que largou o amor e o ódio anda à solta.

Pela sobrevivência, conseguimos ser abomináveis.

A sentença foram águas salgadas, impiedosas forças inquestionáveis.

Lavaram e levaram as almas pecadoras,

ambiciosas e destruidoras.

Afogaram-se os desejos egoístas, através de um manto salgado, que cessou a vida aos homens, inclusive aos narcisistas.

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