Sobre amor
Se escrevesse sobre ti,
Roubar-me-ias as palavras.
Porque tudo o que és
não cabe no som das letras,
nem se deixa aprisionar
em sílabas pequenas.
As palavras escapam,
fogem,
como se soubessem
que só tu lhes dás sentido.
Levas-me as palavras,
O peito,
Os beijos,
E, ainda assim, deixas-me inteira.
Serei tua, como sou
Sem que me peças.
Se escrevesse sobre ti,
Não teria nada para dizer
A minha boca só serve para te amar
O meu peito é a tua casa,
Sem ter aprendido como.
És o lugar onde tudo é leve,
Mesmo quando o mundo pesa.
Amar-te é um lugar sem nome,
onde o tempo desacelera
E os medos se ajoelham.
Se escrevesse sobre ti,
talvez escrevesse sobre mim,
Porque já não sei onde acabas tu
e onde começo eu.
Porque em ti,
encontrei o que sou
quando sou amor.
És o poema que nunca termina,
a página que nunca se vira.
E se um dia me faltar a voz,
amar-te-ei no respirar —
sem som,
mas por inteiro.