A história de uma alma
Sugaram-me a alma, levaram-me as cores primárias, secundárias e as tonalidades. Num suspiro, vim-me e fui-me como água que escorre pelo ralo, como fumo que se desvanece. Fui-me numa última nota de um Dó agudo, para um silêncio tão absoluto que me faz doer os ouvidos. Roubaram-me o sabor, o cheiro a Jasmim, o toque aveludado da tua pele, levaram-me o calor e os sentires do mundo. Nasci a preto e branco, num corpo estrelado transparente. Desapeguei-me do peso, daquele que arrendei para existir no que me pareceram breves instantes. Sou leve, livre de nomes, coisas e… há uma paz nas águas paradas deste crepúsculo indiscritível, quando o sol já se esconde mas o calor ainda persiste.
Inspiro a energia dos meus antepassados, mas nada sou, se não ser. Vivo nestes sopros de vários eus diluídos a pó, ora sólido, ora vento… Em cada respiração ecoam-se as memórias desta alma velha, vivida corpo após corpo, à procura de um propósito invisível aos olhos de quem sente a grandiosidade deste outro mundo.
Ouviu-se o som, o do adeus. Adeus àquilo que nunca foi meu, apenas emprestado. Deixei-me ir e voltei, voltei a algo maior. O nada que não doi, que não cobra, que apenas é.