Feliz Natal, avó
No teu céu cor das pérolas que levas penduradas nas orelhas, existe uma festa onde só nós dançamos.
Uma é princesa, outra rainha e uma filha. Chamada após chamada, éramos sempre nós.
Nesse céu cor âmbar tal qual os teus olhos outrora vivos, estás em paz com as tuas dores. És doce, aguerrida, altiva. Fazes falta a quem deixaste para trás.
Por entre as rugas do teu peito, moram as nucas que aí descansaram. Um ninho abrasador, aveludado, seguro. Eras isso.
O colo.
Qualquer um é o teu melhor sorriso e, com um deles, iluminas as descidas à terra. Vens lembrar a saudade que faz corrente de ar nos nossos corações esburacados.
Esses espaços ocupados por lembranças, sentem o teu respirar. Guardamos tudo por onde tocaste, tudo o que amaste, para que a tua falta não se faça sentir. Mas cambalhotas sobre cambalhotas, tudo nos leva a ti e tu levas-nos à dor do que é lacerar uma presença ausente.
Hoje é sempre o dia que mais saudades sentiremos, depois de ontem. É uma infinita batalha num coração ferido de recordações masoquistas que queremos recordar mas que doem.
Hoje é sempre o dia que queremos sentir-te connosco, depois de ontem. Interminável vício de querer e não poder.
Hoje será sempre o dia que mais te amaremos, depois de ontem. Como se não fosse possível guardar tanto o amor de alguém.
Mas hoje, depois de ontem, será o dia que todos sabemos o quanto gostarias de estar aqui connosco, se o teu céu estivesse na mesma morada da nossa casa.