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Tem juízo, Joana!

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

25
Ago24

3 haikus e 1 história


As ondas enrolavam-se na areia,

Molhada como as noites húmidas de primavera

Eram dois, agora três talvez.

 

A barriga crescia-lhe, quiçá quatro!

A incerteza é o prelúdio das descobertas

Preferiram assim, espera de surpresas!

 

Águas, dor, águas, era março!

Afinal tal era o embaraço, que desabrochou

Era menino enrugado e chorou.

25
Ago24

Água, ar, fogo e terra — a Criação


 

No crepúsculo da criação, debaixo de uma lua semi-cheia, ouviam-se gemidos enfurecidos, choro compulsivo e gritos. Mexia-se com uma flexibilidade corrente, capaz de contorcer sólidos, como a água. À medida que se movimentava, exalava a água sanitária das fartas gotas de fluídos verdes. Ele estava mergulhado em secreções, corrimentos, sangue e ela em suor! As peles não eram macias, mas quentes e transpiradas, emanavam um fumo encarnado, em sibilos rápidos e intensos. Naquela meia gruta, os morcegos fugiam a cada eco agudo e mesmo lá fora, o jardim era um mar de flores quase em decomposição, com cada pétala embaciada pelas exalações furtivas da alma.

Trovejava naquela madrugada, as nuvens  eram impulsionadas por um vento velocista e barulhento. “Agacha-te, Beatriz!”, berrava o relâmpago no céu denso, dentro da sua mente de mil personalidades. A brisa fresca daquela noite arrepiava-se ao passar-lhe a pele ardente e continuava o seu caminho oscilante. “Não posso, tenho de esperar!” soprava entre dentes, vezes e vezes sem conta, talvez assim pairando a frase naquele ar concentrado e salgado, ela conseguisse acalmar a ansiedade que lhe tremia os dedos e a máscara que segurava no vazio. Atirou-a num sopro aquentado e desvendou a sua dor.

“Não posso, tenho de esperar!” voltou-se a inflamar pelas pedras gastas, num grito. Doía-lhe, doíam-lhe as vísceras, a alma, a carne, as memórias… Beatriz era agora o fogo de uma alma consumida pela ira da paixão, os seus cabelos eram chamas vigentes e ondeantes, nos seus olhos incendiavam-se os corações que beliscou antes de os dispensar. A dor voraz, impetuosa queimava-lhe a pele e a consciência, ateava-se nos trapos do seu coração e das suas mil Beatrizes, até virar cinzas e… silêncio.

Daquele prisma, Gusmão emergia das águas espirais da criação, uma massa que tocava pela primeira vez a Mãe e a Terra. O solo estável, perseverante e imóvel, abraçava com as suas raízes este ser ainda unido à genetriz. Naquele momento, a vida sorriu e uma luz, tal qual um novo dia, perfurou as folhas das árvores e iluminou aquele vale mágico. E assim, a festa dos elementos chegou ao seu apogeu, revelando o segredo escondido nas cores do arco-íris.

14
Ago24

Há de NÃO haver


Há o vento quente que não refresca,

há uma faca afiada num corte agudo e doloroso,

há um deserto com sede

e uma porta sempre fechada.

Há as chicoteadas que ficaram na pele calejada,

há o barulho aterrador ecoado nestes ouvidos surdos,

crentes na esperança,

na fé que mora nos olhares brilhantes.

Há uma culpa sem fundo

que não sabe ler,

que me trespassa o terceiro olho como uma flecha.

Há a mágoa de tanta pele esfolar,

de memórias que se afundaram,

de golpes calados pela paz clandestina,

e de vivências ressequidas, esquecidas ao sol,

com sabor a fel, a azedo,

de um amor outrora correspondido,

mas… cruel.

 

Hoje somos nada.

Cinzas, talvez.

Há a sombra de uma mancha negra que se forma no peito,

prova das nossas mãos dadas e cantigas até faltar o ar.

Há o rasto seco de lágrimas que correram anos,

sem um único amparo.

Lágrimas ignoradas pelo ego dominador

de quem tem óculos, mas não pensa ver,

de quem tem coração, mas não pensa amar…

Há uma raiva asfixiada,

pelas raízes quentes do chão de uma casa.

 

Depois há o silêncio.

E depois do silêncio uma pomba branca.

 

E depois o luto…

 

Há o vazio, sem nada para preencher,

porque só o meu amor sobra

neste desgosto sem desculpa,

neste mistério de mil razões que desconheço…

Ou que, simplesmente, não consigo compreender.

11
Ago24

Filha de Gaia


“Tenho em mim todas cores do mundo” — dizia-me ele por entre os sussurros do vento. Latejavam lágrimas de mar que ondeavam-me os olhos escuros cor da terra, sempre gostei de o ouvir. Traz-me paz e, ao mesmo tempo, um espírito de missão tão grande, impossível de caber numa vida só.

“Tenho em mim as vontades do mundo” — repetia embrulhado na espuma branca salgada. Sou rajadas de vento que arrasta pétalas desprendidas do jardim éden, vulcões ferozes que ejaculam o magma dos deuses. Camaleão, camaleoa, coloras-te com os chãos da mente e as brisas da primavera.

“Tenho em mim todas as forças do mundo” — encorajava-me pujante como um leão! Tenho em mim mil beijos encarnados de doce mel e os abraços quentes nos corpos nus. Num olhar pinto a terra e com as pontas dos dedos as peles das cores que eu quiser, canto aos ouvidos das árvores e… no pensamento dançam poemas.

 

É ela, é a filha de Gaia.

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