Não decides tempestades
Tu não decides as tempestades. Tu és as tempestades!
Aquelas que rompem no céu encoberto de nuvens tenebrosas, zangadas, indomáveis.
As que te fazem tremer, que te eriçam o cabelo, que te cravam os maxilares um no outro, que te vincam as rugas até aos ossos.
És as cólicas que te revoltam o intestino, és os violentos gritos presos às cordas vocais, e, também, a cólera que mora no desespero do circunstancial.
Não controlas o mundo!
Não tens rédeas, não tens mapas, não há trilho que te faça caminhar direito.
Perdeste-te no arejar de um vento que inventaste. A bússola rodopiou vezes e vezes sem conta até não teres mais pontos fixos. Os cardeais perderam o norte, o sul, o este e oeste. E o que parecia garantido, de nada serve aos olhos irados do imprevisto.
Não decides as tempestades, elas decidem por ti!
Encharcam-te os sapatos de esperanças e orações mal ouvidas. Águas de tempestades vividas. Águas das dores que mais ninguém sentiu.
Não decides tempestades!
Cansada, olhas o céu de nuvens farto:
“As tempestades alguma vez param?”
— Não — responderam-te. — Mas os arco-íris também não. — reconheci-lhe a voz, vinda de longe, de onde as almas não têm nome.
A tempestade tem o peso das tuas cores.