O teatro da vida
No teatro da vida, somos atores de histórias escritas pelo destino, já traçadas pelos caminhos premeditados, algures esculpidos no tempo do cosmos.
Que tempo?
O tempo que só é tempo quando vivido, quando tem histórias para contar.
O destino roubou-nos a pesada caneta da responsabilidade e escrevinhou a nossa vida num rascunho: cada travessão, cada história; cada ponto, cada momento; cada risco, cada emenda; cada asterisco, cada marco importante.
Quem somos?
Atores de circos ruidosos que nem conhecemos. As trovejantes palmas que nos alçam os egos. A luz quente que ilumina os palcos da vida, somos esse foco num desfoco de nada.
Somos nadas.
Ou pequenos nadas que ajuntados são espectros de cores de profusas características. Somos todas as cores numa só, ou uma cor só refletida num espectro.
Oh destino! Destino!
Quem te escreveu?
Deu-te carvão bastante para riscar suavemente as folhas toscas, deixando um rasto a cheiro antigo que as impregnou. Deu-te vários capítulos numerados nas páginas ásperas da vida. Deu-te nomes timbrados a quente disforme. Deu-te actos esquecidos nos cenários mudos que partilhas nem sabes com quem.
Somos todos atores.
Personagens, emoções, somos o verbo ser conjugado em todos os pronomes pessoais. E todos são o Eu.
Somos caminhos já apontados por sinaleiros que rangem, crespos… fartos do tempo.
Temos várias vidas numa só e somos todos os parágrafos que alguém ficará para contar.
Entre cenas e encenações, no final da peça, todos seremos apenas histórias.