Monte branco
Vastas planícies de sobreiros
Existe um poço enferrujado
Movem água e não dinheiros
Pastores com o seu cajado
De campo em campo há dourados
Espigas, vinhas e afins
Com sotaques aprimorados
Colhem papoilas e alecrins
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Vastas planícies de sobreiros
Existe um poço enferrujado
Movem água e não dinheiros
Pastores com o seu cajado
De campo em campo há dourados
Espigas, vinhas e afins
Com sotaques aprimorados
Colhem papoilas e alecrins
Sinto uma enorme pressão no cocuruto, sempre odiei as descolagens graças a esta bizarra sensação de aperto da cabeça às nádegas. Decido distrair-me com a janela e apreciar a paisagem. Vejo as margens do rio unidas pela ponte, que harmoniosa que é, com as suas cores de tijolo aos losangos imponentes sobre a água. Admiro-os melhor por cada vez que o avião muda a direção para se alinhar rumo ao destino.
Da baixa lisboeta ergue-se a cidade nas encostas feitas de história como tantas que vivenciei, talvez com um pouco de álcool a mais no sangue. Passa-me um frio arrepiante pela pele, desligo o ar condicionado e volto-me novamente para sentir Lisboa. A torre de Belém e o Castelo de São Jorge são os monumentos onde escolho pousar o olhar. Grandiosos monumentos em pedra soberbamente construídos ali há tantos anos atrás, com um propósito que não é o mesmo de hoje. Ao fundo observo a serra de Sintra e vêm-me à memória os cheiros da minha infância. O musgo húmido e o cheiro a terra molhada fazem-me recordar o caminho até à vida adulta que, forçosamente, me deu acesso direto a este lugar confortável onde vou sentada agora. Já na trajetória certa, vejo toda a costa e o mar cheio de espuma resultante da sua tormenta. Em instantes, a espuma passa a ser um fino fio branco bem lá em baixo e as nuvens começam a surgir, tornando-se numa camada cinzenta quase opaca. Lisboa está triste, não pelo nevoeiro, mas pela minha partida!
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👉 Um desafio do curso de escrita criativa de @analitaalvesdossantos
Os teus olhos respiravam bravura,
És flor, mel e pedra dura.
No cabelo de raízes grisalhas,
Levavas a experiência, a bagagem de uma vida
Nos caracóis, enrolavam-se a ousadia e o destemor
Que te fizeram balancear as ancas e arrebitar o nariz.
Por entre nuvens, sonhos irreais, caminhavas nos meus pensamentos,
Vinhas na minha direção,
Conhecedora das saudades que dormem no meu coração.
De olhos fechados, vi-te chegar, dona, de emoções independentes.
Sou a soma das tuas partes e sem ti sou quase nada.
Quiseste chegar-te a mim, para me transbordar,
Num sonho real, senti a tua pele enrugada, o perfume…
Eras tu! E Passou a ser primavera debaixo daquele sonho que vivíamos…
O teu olhar era brilhante mas cansado,
A caminhada foi intensa.
“Tenho as pernas fagutas” - dizias no teu português-alentejano atropelado.
Sem saberes ler, nem escrever, juntavas sílabas com significado intuitivo e inventavas palavras que tocavam o senso comum.
Olhei-te com ar preocupado, tive medo, algum…
Que tivesses cansada de saltar entre as nuvens e de morar em todas as estrelas.
Nestes momentos, invejo o cosmos por te poder ter pelos infinitos pontos de luz que carregam a tua energia, o teu espírito.
E odeio poder ter-te apenas nos sonhos,
Que tal como este, o teu sentir é-me restrito.
No aconchego da tua casa, celebrávamos uma qualquer ocasião,
Chegaste atrasada, mas iluminaste as sombras que vivem por detrás de cada coração.
Queria que durasse para sempre,
Aquela frase, aquele olhar…
Queria tatuar-te no coração, que perdurasse a sensação de te ter comigo.
Tenho medo que o tempo apague estas memórias, por isso escrevo-as…
Sangro aqui!
No papel que reflete a tua imagem,
Num sonho surreal, de branco
Trazes-me uma mensagem.
Eu levo-te, aos teus caracois, as tuas mãos deformadas, a tua voz meiga e arrebitada, levo comigo.
Trago tudo debaixo da pele!
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