Terreno baldio
Um embaraço, sem saber o que faço, ou se desfaço.
O labirinto é longo, mas a saída é só uma. Embrulhei-me nas vontades, nos quereres presos noutros olhares e perdi-me.
Perdi-me de mim, do outro e de mais alguém.
Que labirinto é este só de uma saída?
Um embaraço, onde me desgraço. Corro, corro e nunca alcanço, palpo tudo e tudo é ranço.
Escorregam-me as mãos pelas lamas da ganância, de hipocrisia besuntaram a minha cara, fede a imoralidade.
Dificuldade.
Dificuldade em tirar a venda dos olhos, meter-me em trabalhos e deflorar velhos folhos.
Descobrir.
São fios de novelos emaranhados, mas que terminam num só. No mesmo.
São corpos, braços, pernas, cabelos, fluídos que se ligam todos. No fim.
É amor, ódio, gentileza, inveja, rancor, generosidade, todos misturados na bebida alcoólica das emoções. Alcoolizadas. As moléculas neurais do sentir, mesmo não sentido.
Suspensos. Os roços das memórias do que vivemos, sem viver.
Ausentes. Industrializados numa sociedade omnipresente, sem estarmos em parte nenhuma.
Hesito, paro. Quem faz um labirinto de uma só saída? Não há escolhas, mudanças nem predileção. Não. Não vou correr, andar ou rastejar. Não sigo a mesma direção.
Hesitei e parei.
Escuto. O som é robótico.
Não quero! Jamais!
Escuto. Tic-tac-tic-tac.
Que labirinto é este tão condicionado?
As unhas estão lascadas, o cabelo espigado. Os meus olhos tornaram-se sensíveis à luz, os lábios ressequidos.
Levanto os olhos e tento espreitar a lua que nasce, em busca de um beijo que me molhe a boca de vontades. Não se veem as andorinhas e o céu está a desvanecer.
As peles tornaram-se acinzentadas, áridas.
A liberdade perdeu a cor.