Escrevi um arco-íris no vento
Escrevi um arco-íris no vento,
Com certezas que cores escolher,
Perdi-me no cromático do pensamento
Fugiram as aguarelas e o meu único pincel
Quis escrever um arco-íris no vento,
Sem as cores vulgares ressequidas na paleta oval
“Dou-te novas colorações num céu que invento!”
Disse aos assobios, rugidos de um vendaval
Num céu cheio de sopros ferozes
O arco-íris perdeu as cores
Procurei pintá-lo na ventania
Com novos tons, sabor e odores
Rasgou-se o musgo da terra molhada
Das chuvas que fizeram charco
Salpicou o céu de verde esmeralda
De musgo a musgo, formou-se um arco
Queria escrever aromas que me trespassam
O cheiro a fome paira nas ruas do planeta
Pintou de amarelo o céu onde desenhava
Um arco-íris ao vento em tons de azul,
Cheiro a tinta desta caneta
Pulsar da raiva ao longo da história
E um arco-íris alegre e inocente
O sangue deflagra e faz memória
De um vermelho vivo e latente
Escrevi um arco-íris no vento,
Desenhei-o a preto-carvão
Na paz desta folha de papel em branco acrescento,
Faros do negrume, retalhos da minha solidão.
Enfim, maquilhei o céu limpo
Com vento e sem semelhanças,
Os bálsamos pintaram as cores
Desenhei um arco-íris de lembranças.