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Tem juízo, Joana!

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

15
Nov22

Cata-pum, cata-pum, cata-pum!


O barulho ensurdecedor de ontem continua a cutucar na minha mente indolente de hoje. Já não sei se foi apenas um estrondo que se prolongou longitudinalmente ou um ruído que se manteve presente em série pelos orifícios dos ouvidos ou nas entranhas das minhas fantasias obsessivas, que há muito parecia já se terem extinto.
A extinção é irreversível e os meus miolos sempre gostaram de uma boa reviravolta. Um contra-ataque inesperado, um golpe baixo, sujo, que evidencie que tudo o que é invisível aos olhos é reversível na mente.
Ouvia-o. E não sabia de onde vinha.
Se aumentava os estímulos externos, ele ficava esquecido por entre a abundância auditiva. Se o silêncio se fizesse ouvir, não era silêncio e eu… ouvia-o.
Que estampido é este que chegou sem epílogo? Insistente, dirigindo-se ao meu âmago em cartas sem quaisquer selos ou remetentes?
Ele continua. Não sei se é loucura, delírio ou invenção. Não lhe encontro o rastilho nem explicação.
Os conflitos cavalgam internamente até os cascos viraram poeira num terreno cerebral esburacado, cheio de obstáculos e lixo nas bermas.
Cata-pum, cata-pum, cata-pum!
Uma luz, vejo uma luz e sigo em direção a ela. Entro num espaço celestial, de paz, uma sensação de conforto interminável, que nunca antes senti. O barulho parou. Ali naquela harmonia espacial, os meus pés flutuavam, os membros afastavam-se do tronco e os cabelos pairavam. Era um lugar onde o amor se espelhava em cada canto. Foi, então, que o ruído voltou a importunar-me os ouvidos, agora parecia que latejava em toda a cabeça. Cata-pum, cata-pum, cata-pum!
E, no meio daquela luminosidade misturada com arranjos florais e cheiro a extase, arregalei os olhos e percebi… era amor. O coração latejava na garganta, entoava no meu peito. Terei sido atingida por uma flecha perdida de um cupido qualquer? Cata-pum, cata-pum, cata-pum! Uma inquietação palpitava-me, numa melodia louca que ressoava toda em mim.
Naquele lugar havia a clareza que ontem, o som do amor ecoou-me a alma até hoje e para sempre.
Cata-pum, cata-pum, cata-pum!

 

--> Um desafio proposto por Ana, a abelha - 52 Semanas de 2022 | tema 25.

--> Sugerido pelo meu querido amigo e escritor Carlos Palmito, que me alertou para estes desafios fantásticos da Ana e ainda adicionou um desafio em cima deste. Para além do tema proposto, colocar as palavras: Extinto, Ontem, Sujo, Selos e Cúpido. 

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