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Tem juízo, Joana!

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

24
Nov22

Submundo


— Eterniza-me na pele!

Acocorada, com as mãos transpiradas, apertava os joelhos contra o peito.

Doía-lhe a alma.

Aquele som frenético da agulha carregada de tinta preta, propagava a tranquilidade de que carecia.

Nómada, naquele mundo subterrâneo, a sua pele era arte que se misturava com as cores sujas do betão.

Era uma cliente habitual, por cada vez que incorria na imoralidade castigava a pele. A dor era a sua salvação.

Roubou, enganou, matou e… vendeu-se, apenas porque tinha de se fazer durar.

Não tinha nada, não mais que sua história tatuada no corpo.

— Por favor, eterniza-me na pele!

 

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⚜️ Conto para o concurso da European Association of Creative Writing Programmes - flash-fiction EACWP contest (Portuguese) - texto com um máximo de 100 palavras com o tema “underground”⚜️

20
Nov22

O mar em mim


Olho no fundo da retina destes olhos. “Quem és tu?”

Um mar de vários oceanos, onde já desaguaram sobejos rios e continuam a respingar outros, advindos de toda a parte do mundo.

Doces, salgados, verdes, enlameados, pequenos ou grandes, rios que se juntam às mil e uma gotas deste meu oceano.

Sou um mar azul, de emoções fortes, por vezes revolto, outras tranquilo.

Nas tempestades faço vórtices na intempérie da escuridão, enlouqueço na maré alta do meu sentir pesado.

Da mesma maneira que o mar, depois do temporal, também em mim se planta a calmaria, repleta de confiança no universo, nos astros, no amor, no cosmos, onde o coração bate ao compasso de uma maré baixa. Então, guardo comigo todas essas marés, uma coleção do que sou, aconchego-as com a maior humildade que acredito ter, para poder honrar o meu percurso e proteger-me das melancolias negras que um e quaisquer pensamentos são capazes de possuir.

Os meus olhos não são azuis. Não têm a cor do mar. Foram-lhe buscar as tempestades, a personalidade, o imprevisível de poder ser o que melhor servir nos diferentes momentos da vida.

Na íris mora o respeito, esse que emerge em cada ondulação do que me possa tornar, já que, na corrente da vida, somos seres de copiosos traços, falar de mim, implica caracterizar o que não pode ter fim. Tal como o mar.

Mas, os meus olhos não são azuis. E, não é por serem de outra cor, que não amam tudo o que abrange o seu olhar.

Acomodam-se neles o amor, um brilho especial pela vida. Julgo ser esse o grande pormenor que me faz amá-los na completude do seu reflexo espelhado.

Estimo-lhes a aprendizagem, empenhando-me para amar tudo o que já fui, pois, todas as marés que romperam em mim, deixaram memórias viscerais semeadas entre os folhos do meu ser.

Como disse: os meus olhos não são azuis, são da cor da terra, onde todo o mar faz baia. Sou raiz, consistência e robustez.

A generosidade também passeia por lá, talvez mais pelo meu sorriso, enorme e luminoso, com o propósito de acrescentar um tanto ao olhar e ao sorriso dos outros, porque, assim como o mar, estimo qualquer chão onde possa repousar.

 

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Um desafio da Ana D., nos desafios da abelha.

 

15
Nov22

Cata-pum, cata-pum, cata-pum!


O barulho ensurdecedor de ontem continua a cutucar na minha mente indolente de hoje. Já não sei se foi apenas um estrondo que se prolongou longitudinalmente ou um ruído que se manteve presente em série pelos orifícios dos ouvidos ou nas entranhas das minhas fantasias obsessivas, que há muito parecia já se terem extinto.
A extinção é irreversível e os meus miolos sempre gostaram de uma boa reviravolta. Um contra-ataque inesperado, um golpe baixo, sujo, que evidencie que tudo o que é invisível aos olhos é reversível na mente.
Ouvia-o. E não sabia de onde vinha.
Se aumentava os estímulos externos, ele ficava esquecido por entre a abundância auditiva. Se o silêncio se fizesse ouvir, não era silêncio e eu… ouvia-o.
Que estampido é este que chegou sem epílogo? Insistente, dirigindo-se ao meu âmago em cartas sem quaisquer selos ou remetentes?
Ele continua. Não sei se é loucura, delírio ou invenção. Não lhe encontro o rastilho nem explicação.
Os conflitos cavalgam internamente até os cascos viraram poeira num terreno cerebral esburacado, cheio de obstáculos e lixo nas bermas.
Cata-pum, cata-pum, cata-pum!
Uma luz, vejo uma luz e sigo em direção a ela. Entro num espaço celestial, de paz, uma sensação de conforto interminável, que nunca antes senti. O barulho parou. Ali naquela harmonia espacial, os meus pés flutuavam, os membros afastavam-se do tronco e os cabelos pairavam. Era um lugar onde o amor se espelhava em cada canto. Foi, então, que o ruído voltou a importunar-me os ouvidos, agora parecia que latejava em toda a cabeça. Cata-pum, cata-pum, cata-pum!
E, no meio daquela luminosidade misturada com arranjos florais e cheiro a extase, arregalei os olhos e percebi… era amor. O coração latejava na garganta, entoava no meu peito. Terei sido atingida por uma flecha perdida de um cupido qualquer? Cata-pum, cata-pum, cata-pum! Uma inquietação palpitava-me, numa melodia louca que ressoava toda em mim.
Naquele lugar havia a clareza que ontem, o som do amor ecoou-me a alma até hoje e para sempre.
Cata-pum, cata-pum, cata-pum!

 

--> Um desafio proposto por Ana, a abelha - 52 Semanas de 2022 | tema 25.

--> Sugerido pelo meu querido amigo e escritor Carlos Palmito, que me alertou para estes desafios fantásticos da Ana e ainda adicionou um desafio em cima deste. Para além do tema proposto, colocar as palavras: Extinto, Ontem, Sujo, Selos e Cúpido. 

12
Nov22

TU


Tens um sol dourado no colo do teu abraço,

que me afaga os cabelos na noite escura,

Sentes a terra húmida no pé descalço,

Lágrimas que chorei devagar, contudo em fartura.

 

O passado habita nos teus olhos esverdeados,

Faz melancolizar-lhes a expressão,

acontecimentos que surgiram encadeados,

Que te distanciaram da missão.

 

Neles reside também a franqueza,

Que me fez acreditar de punhos cerrados,

Que a humildade é uma riqueza,

E só existe nos bolsos dos mais honrados.

 

O teu amor banha-se do que é primitivo

Vive do instinto e fases da lua,

Do premeditado é fugitivo

Nada melhor que o deixar que flua

 

Enrolamo-nos na areia quente

Deste amor que renasceu

O universo ligou-nos, por consequente

Eu sou tão tua, como tu és meu.

 

Uma homenagem a que é Amor para mim.

 

👉🏻 também publicado no blog da @valletibooks REFLEXÕES Nº45 6/11/2022

04
Nov22

Homenagem casamento Tiago & Orlando


Conheci o Tiago com um brilho nos olhos. Sim, aqueles lindos olhos azuis com pintas amarelas que só ele é capaz de ver. O brilho vi-o eu. Um brilho cheio de determinação e bravura, consciente daquilo que queria ser, daquilo que queria ter e daquilo que queria sentir.

Um rapaz de mãos gastas pelo trabalhador que é, de cabeça erguida pelos objetivos que pretende atingir, mas o coração destaca-se pela nobreza e honestidade.

Conheceu o Orlando por mero acasoBom, eu não sei se o destino existe ou não, mas o acaso traz estas surpresas, as quais não conseguimos arranjar razão que as justifique. Este amor, que celebramos aqui hoje, nasceu desses acasos, uma mera casualidade. Quão bonito consegue ser o inesperado? Que consegue mudar-nos a vida assim?

E, se a eternidade é uma ilusão, confiemos na aleatoriedade do universo, que nos trouxe até aqui hoje para aprender aquela religião universal: o amor. Sabendo que a glória, depende de cada um de nós, porque o amor nunca deixará de ser uma escolha, uma escolha diária.

Se o tempo falasse contaria a história destes dois corações que se decidiram enamorar há 5 anos atrás, num seio de coragem e determinação. Falar-nos-ia do Orlando como o suporte, que deu guarida à estabilidade emocional do Tiago. Acrescentaria a dedicação que têm um no outro, e, como em tudo na vida, a tolerância capaz de abraçar tanto as virtudes como as imperfeições. Entre gargalhadas, revelaria os momentos de humor partilhados! Contaria as inúmeras idas e voltas de comboio do norte ao centro e do centro ao norte, que desnorteava os apaixonados quando a saudade decidia gritar.

Se o tempo falasse falaria das dúvidas, dos medos, das questões que foram surgindo ao longo do caminho. Descrever-nos-ia as lágrimas da distância, de uma cega perseverança de quem sofre, mas que não quer desistir! Os punhos cerrados que se erguiam às dificuldades, mas o peito ia cheio para vangloriar o amor que decidiram partilhar.

Hoje celebraremos a liberdade, a de poder amar sem restrições, hoje celebraremos o verbo dar e o acreditar. Dar haveres infinitos, os que não são feitos de bens, mas de bem-quereres. E, acreditar, acreditar que tudo tem uma força maior, superior a nós, que nos faz caminhar na vida confiantes e crentes no amor eterno. Porque mais do que pensar na eternidade é acreditar nela. E o amor só será eterno quando “acreditar” for assíduo na rotina diária.

Então, hoje, acreditem e deem todo o amor de que são feitos. Deixemos os comboios de lado, os que fizeram parte da vossa história, porque daqui para a frente será um voo, aplanado nas nuvens da cumplicidade, lealdade e respeito e, quem o pilota são os dois, crentes de que juntos, saberão sempre por onde ir.

No vosso voo deem lugar à liberdade, à individualidade, à escolha, para que sejam sempre livres de serem vocês próprios, com as vossas próprias escolhas. Porque o amor toma uma beleza colossal quando escolhemos livremente em quem entrelaçamos as mãos.

E se o tempo continuasse a falar, que nos venha contar esta belíssima história de amor ouvida e sentida com o coração. E que todas as idas e voltas, todas as viagens, sejam um percurso perfumado, a pé, num voo ou, como dita a história, de comboio mas onde os dois, caminham sempre de mãos dadas, cientes de que este amor é luz, a luz que vos irá guiar para sempre.

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👉🏻 homenagem ao amor, num casamento onde a distância se reduziu pelo afecto e vontade de ficar junto.

 

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