Fomos mais uns a caminhar naquela rota antiga, tantas vezes percorrida por outros, de outras cores, de outros amores, de outros saberes e culturas.
Fomos mais dois a levar o espírito de sacrifício nos pés, o desafio na mente, a coragem ao peito e a mochila às costas. Levámos também a cumplicidade, a perseverança, a camaradagem e, claro… o amor. Foi assim que decidimos fazer, com amor.
Caminhámos lado a lado, ora um a frente, outro atrás, ao sol, à sombra, mas caminhámos. Caminhámos muito, por muito tempo.
E, como em tudo na vida, doeu. Doeu muito. Foi duro, cansativo, desafiante e emotivo.
Caminhámos com um único peso às costas, reconhecendo que, afinal, o essencial para viver é leve e parco. E quanto mais leves vamos, mais donos do próprio caminho nos tornamos.
Caminhámos de mãos dadas, caminhámos a conversar, cantar, animados, caminhámos afastados, em silêncio, cabis-baixos, a lamentar ou a reclamar.
Caminhámos por lugares preciosos e únicos.
Caminhámos com dor, cansados física e mentalmente.
E, como em tudo na vida, faz parte. Aceitar os momentos de introspecção como os de expansão. Aceitar os silêncios, a individualidade, como o tempo de nos relacionarmos. Aceitar a dor, apreciando-lhe o gosto da recompensa. Aceitar que, tal como no caminho, os sentimentos são cíclicos, como em tudo na vida.
O caminho é isso. É descobrirmo-nos e descobrir forças onde achávamos que não existiam. Descobrir que somos capazes, somos sempre capazes, mesmo quando nos esmorecemos, porque mais depressa ou mais devagar, acabamos invariavelmente por chegar.
Passo a passo. Seta por seta.
Como em tudo na vida.
Pelos Caminhos de Santiago, o caminho português.
30 de Julho de 2022.
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Recitação do texto na página @temjuizo_joana - no post "O caminho"
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