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Tem juízo, Joana!

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

Entre o certo e o errado, o perdido e o achado, o dito e o não dito, encontros e desencontros, da pequenez à plenitude, entre a moralidade e a indecência. Se tenho juízo? Prefiro perdê-lo…

29
Mai22

Podes ir…


Não te toco, não te penso, para que não te distraias no caminho. Choro-te baixinho, tão baixinho, que nem te incomodo. Ninguém me ouve falar de ti, só para não olhares para trás.
E, de cada vez que a lembrança te pousa, eu fujo. Tenho de ter a certeza que lá chegarás.

Desapegar-te, não é fácil, quando o teu coração amava demais.
Encubro o meu suplício, porque te estimo a paz.

Pesam-me as tuas memórias, já de tão embebidas em lágrimas que correm por ti. Mas não posso desbotar-te, para que não percas a nitidez.

Deixa-me ser generosa no quanto te amo, mas acende-me a aquietação de não mais te poder sentir.
Renuncia-me a misericórdia e ostenta-me com o teu sorriso uma última vez.

Desenraizar-te de mim, não quero. Então, visito-te tantas vezes nos meus retalhos, que chega a devolver-te solidez na transparência onde vives agora.
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📸 pexels.com - Rodolfo Clix

25
Mai22

Ninguém me disse


Sabem quando ficam perplexos com as situações? Quando a indignação conquista todo o espaço cerebral? Talvez o espaço onde são processadas as emoções de alta intensidade… é assim que me sinto! Numa aversão pelos imprevistos e circunstâncias. É que nunca ninguém me disse que a vida era assim, que era isto, estes ciclos de dor-alegria, chorar-rir, morrer-nascer, cair-levantar. Nunca ninguém me disse!

Se, na adolescência, me dissessem que iam haver fases de lua versus sol na minha história, eu não quereria crescer. Ninguém me disse que as pessoas seguiam caminhos diferentes, de forma individual e que toda a adolescência acabaria mesmo ali!

Tão pouco me informaram das decisões, das escolhas que podiam mudar-me o rumo. Até das incertezas se esqueceram de me avisar, quando o que me davam para ler eram histórias de “viveram felizes para sempre”. Mas até essas personagens tiveram dúvidas, viveram nas mesmas hesitações sísmicas que eu.

Também ninguém me disse que iria temer pela morte dos meus, nem nunca me prepararam para isso. Se me dissessem que eu ia trepidar com o toque do telefone, fora de horas, eu preferia não crescer. Os acontecimentos menos bons não escolhem hora, nem o dia perfeito para acontecerem. Simplesmente acontecem! Levam-nos o chão em instantes. Tudo o que era garantido passa a ser incerto ou, até mesmo, dispensável.

Não é fácil, isto de sermos crescidos, dos que vivem com o coração nas mãos, cheios de cuidados. Se não é cuidados com o meio envolvente, é com a língua. Ninguém me disse que teríamos de ser tão apertados de bons modos, de cautelas, responsabilidades e preocupações. Queria ter ficado na infância, quando os meus pensamentos pairavam entre chocolates, bonecas e desenhos animados. Crescemos para conhecer o sabor amargo da tristeza e saber lidar com a aflição. Crescemos para saber colocar tudo numa balança e zelar para que o lado mais pesado seja o das conquistas, do amor e dos momentos felizes.

Ninguém me contou que iria viver numa corda bamba e que ia ter medo de cada vez que me desequilibrasse. Que iria ter medo das quedas e, muito mais medo, das quedas livres, desprovidas de amortecedor. É que ninguém me disse!

Quanto mais o tempo passa, mais conscientes somos do quão frenética a vida é. O tempo dá-nos a vil lucidez, de que não importa o quanto façamos, os acasos, ao acaso, surgem, mudando todo o universo e os universos dentro de nós.

Nunca ninguém me disse que, afinal, estas dores da vida, eram as tão faladas dores de crescimento.

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👉🏻 poderão encontrar este texto no blog da @valetibooks na reflexão n°15 - 10/04/2022

22
Mai22

Vergonha alheia


Lareira apagada, um fogo que se extinguiu com a humilhação produzida pelas gargalhadas que lhe achincalhavam a imagem. A vergonha estava ali diante dos meus olhos, alheia às cinzas do que outrora foi consideração. Hoje, era vergonha alheia num ambiente gélido e penoso, assim que o fogo se dissipou.

A heterogeneidade dos comportamentos humanos provoca estas rasteiras nos demais, porém o que seria se fôssemos todos iguais?
A vergonha é tão antagónica como ver de olhos fechados. Tanto é o instante que apalpamos o julgamento pela exposição ao ridículo, como é o exercício empático pela vulnerabilidade do outro.

Se esquadrinharmos a vergonha alheia, descobrimos o quão terna é, este sentimento que se expressa pelo primeiro contacto com a desigualdade e imperfeição.
E é então que experimentamos a aceitação das diferentes percepções do “normal” pelo mundo espalhados, das adequações inadequadas sob a nossa perspectiva que nunca é a verdadeira.

Percebemos que o juízo de uns é a falta de tino de outros e que o equilíbrio faz-se desequilibrando.
O fogo volta a atear-se pelo meio das cinzas da vergonha, convicto de que a ponderação é uma travagem brusca para quem ostenta um espírito livre e temperamento ventoso.

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👉🏻 também podem consultar este texto no blog da @valletibooks reflexões nº20 (15/05/2022)

19
Mai22

A noite tem a cor que eu gosto


A noite tem a cor que eu gosto, tem fantasmas do meu tamanho. Tem medos que adormecem e me deixam dormir também, pelo conforto das estrelas e os mistérios da profundidade de um céu escuro.

A noite tem a cor que gosto, tem disfarces à altura da astúcia do meu coração.
Venham fantasmas, venham homens! A noite tem a cor que eu gosto, escurece-me, abafa-me, oculta-me a visão. O que não vejo, não enxergo e o que não sinto, não faz oposição.

Na noite caminho cega, mas imensa. Carregada dos desejos mais obscuros, os que, até a mim, metem medo. Num breu de aflição, as sinapses não cessam, mil e uma névoas se erguem do subconsciente, para fazer frente ao propósito da minha existência.

A noite tem a cor que eu gosto, agora adormecida, num silêncio neurológico, o corpo esvai-se pelos lençóis, com a delicadeza que é a união destas duas pálpebras, onde os sonhos embaciam a alma e os medos se tornam meramente teóricos.

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👉🏻 Um desafio de escrita lançado pelo Carlos Palmito, inspirado na frase genial e mística da fantástica ROMI
👉🏻Este texto está também publicado no blog da@valletibooks - reflexões nº10 (06/03/2022)
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#escritacriativa #noite #inspiracao #textospoeticos #escritorasportuguesas #serescritor

15
Mai22

Validade aleatória


Saborear o tempo é um luxo. Ser livre em tempo, de tempo em tempo, é afortunar o bizarro prazo que a vida tem. Sabemos lá quando expiramos… e, mesmo assim, corremos contra o tempo, como se fosse tangível de se atracar. Numa frenética cinesia, aceleramos o pulsar interno até ficarmos ofegantes. Ocupamo-nos de quotidiano, engordamos de hábitos e consagramo-nos num ofício por bom dinheiro, mas onde o tempo se tornou uma pechincha. Ainda assim, não fugimos ao tradicional, é convidativo. Os bens tornaram-se sedutores, a abundância fez-se guarida, mesmo na escassez consciente de apreciar o que é viver, na carência de tempo em qualidade para gozar o que é ser.

Desgastamos o corpo, sugamos atrapalhadamente os segundos dos ponteiros traiçoeiros, sem dar conta de que são o único e mais valioso património que poderíamos ter. E, seguimos, porque é assim que nos ensinaram a existir, neste estado de insuficiência “temporo-corporal”, por excesso de estímulo externo e pouco interno.

Recordem-se que somos de uma validade aleatória, incerta, de chãos movediços, tão vulnerável pela insanidade de ignorar o seu fim.

 

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Poderão encontrar este texto em: Blog - Valletibooks

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