Se dantes entre corredores, saídas e telefonemas, se falava sobre a meteorologia, hoje em dia a conversa é outra.
Já ninguém quer saber da meteorologia quando há um bicho à solta lá fora a infernizar-nos a vida.
- A meteorologia foi substituída pela típica pergunta: “estás em lay-off?”. Total, parcial, nunca eu pensei ouvir tanto esta palavra (bom claro, a seguir a “Covid”, essa ficou para top dos tops deste ano). “Estás de lay-off?”, (existem estas duas vertentes - estar EM ou estar DE ...) mas, que na cabeça de quem pergunta significa “então, por aqui? Estás de férias?”.
Achava eu que o lay-off era alguma coisa relacionada com um design qualquer da malta da tecnologia, algo assim. Ainda cheguei a dizer lay-out, notem a minha ignorância. Hoje, percebo mais de lay-off do que da factura detalhada da luz cá de casa.
- A típica frase, antes de sair de casa “traz as chaves”, foi também ultrapassada pela “traz a máscara”. Noutros tempos, se ouvíssemos alguém dizer isto era porque estávamos no carnaval. O que é certo é que 2020 se tem demonstrado mesmo carnavalesco. A covid continua a desfilar pelas praças, enquanto esfrega o rabo nas nossas caras (desculpem, nas nossas máscaras) e nós arregalamos-lhe os olhos de medo. Ainda assim, corroboramos com isto cada vez que gastamos € a comprar uma máscara “linda” com um padrão “top”. Aí é que a covid fica boquiaberto. Ela a querer fazer-nos sofrer, mas nós, damos um beijinho no ombro, fazemos da máscara ambientador no retrovisor do carro e seguimos belas, com a nossa máscara padrão de leopardo às bolinhas vermelhas.
Novas modas!
- O sorriso substituído por um pedaço de pano/papel/tnt/filtro à frente do nariz e boca. E... deste custa-me falar. Adoro sorrisos, risos altos, línguas de fora... e só ver olhos dá-me arrepios. Fico nervosa quando quero fazer uma piada com a máscara - ninguém me vai entender, ninguém vai ver o meu sorriso. Ou melhor, ninguém me vai ouvir!! Ui, passamos todos a falar com mais 4 ou 5 decibéis a cima. Ora, se retirar-mos a leitura labial, com mais 2 (às vezes 3) camadas de tecido à frente da boca, quem nos vai ouvir? Parecemos doentes apáticos, sem expressão, de cada vez que vamos às compras, de cada vez que entramos num café... enfim, meio Zombies cambaleantes doentes.
- Os cumprimentos passaram da boca-bochecha a cotovelo-cotovelo. E não é que agora toda a gente põe os cotovelos em todo o lado? Pancadinha de cotovelo para cumprimentar o amigo, cotovelo para acender a luz, cotovelo para carregar no botão do elevador, cotovelo para empurrar a porta. Ao final do dia, temos os cotovelos cobertos de Covid e nunca ninguém nos ensinou como se ensaboa muito muito bem os cotovelos (técnica válida apenas para as mãos?).
- Se alguém tosse ou espirra “Olha aí a Covid!” Então e o “saúde? Santinho?” Ficaram onde? (E um à parte, também espirramos e tossimos para o cotovelo - coitado - o perigo passou das mãos para a articulação acima.)
Ja não basta nas notícias não se falar de outra coisa, a amedrontar-nos, para agora, cada vez que soltamos ar forçado pela boca, nos tenham de relembrar que podemos ter covid? Já não há a gentileza de trazer um lencinho e dizer “Saúde, minha rica filha!”
- Somos 11. Não, não somos 11. Não podemos ser 11. E reunir assim 11 amigos é tão fácil e faz-nos tão bem. Somos 10, 10 já dá? Levaram-nos os ajuntamentos de amor, da amizade, da galhofa. Receamos até o familiar mais próximo, quando só lhe queríamos dar um abraço e um beijo bem asséptico. E a vida é curta, ainda mais curta se torna quando a vida só dura até as 20h, com o devido distanciamento social dos que nos fazem rir, dos que nos aquecem o coração.
A covid realmente levou-nos muita coisa... Coisas que secalhar nem dávamos a devida importância. Agora, por muito que tudo nos custe, temos de nos aguentar!
Mas atenção, o bicho anda aí, tomem todas as precauções. Isto foram apenas os desabafos de alguém que quer voltar a Viver com V grande.
E vocês? Que modas novas identificam?
Imagem por: Catarina Alves - Freezememories_